Correio Econômico: O despreparo do Brasil para o futuro

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A campanha política começa, oficialmente, em 16 de agosto, mas os economistas que preparam os planos de governo dos candidatos deveriam se debruçar sobre os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A dica vale, sobretudo, para aqueles que relutam em não admitir a necessidade de reforma da Previdência Social. O Brasil ficará velho muito rapidamente. Se nada for feito de imediato para acompanhar a transição demográfica que o país viverá até 2060, certamente o caos vai imperar. Veremos velhos desassistidos, muitos à beira da miséria.

Em 2060, prevê o IBGE, um em cada quatro brasileiros terá 65 anos ou mais, ou seja, 25,5% da população estarão na velhice. Cada 100 pessoas produzindo terão 67 dependentes — crianças de até 15 anos e idosos com mais de 65 anos. Trata-se de um quadro dramático perto do que se vê hoje: um em cada 10 brasileiros tem 65 anos ou mais e, para cada 100 pessoas no mercado de trabalho, há 44 dependentes. Mesmo assim, o sistema previdenciário brasileiro registrou, somente em 2017, rombo de R$ 268,8 bilhões, buraco que pode ultrapassar os R$ 300 bilhões neste ano.

O que se vê é um Brasil despreparado para o futuro, que sequer resolveu os problemas do passado. Se hoje, ainda um país jovem, atolou-se em um regime de Previdência altamente desigual, que favorece uma minoria privilegiada, como fará para resolver todos os problemas que serão colocados quando um quarto da população já não tiver mais condições de produzir? Como oferecerá um Sistema Único de Saúde (SUS) que já não dá conta de atender a população que não pode pagar um convênio médico? Como evitará que os mais velhos não sejam marginalizados simplesmente por custarem caro?

Discurso para desinformados

Soa muito bonito, aos ouvidos dos desinformados, discursos de candidatos dizendo que o Brasil não tem problemas na Previdência Social e que bastará cobrar as dívidas de devedores contumazes para cobrir o rombo de caixa. Não é verdade. Supondo que o governo consiga reaver os mais de R$ 400 bilhões não pagos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), esse dinheiro só dará para bancar o sistema por pouco mais de um ano. Quer dizer: os deficits continuarão e serão cada vez maiores, acompanhando o envelhecimento da população.

Nenhum governo quer fazer mal para os cidadãos ao propor mudanças nos sistemas de aposentadorias e pensões. Os ajustes são necessários para que a Previdência se perpetue e possa cumprir todas as obrigações. Os países que não se renderam aos discursos populistas, aos argumentos sem embasamento técnico, conseguiram superar as dificuldades e voltaram a crescer. Um regime previdenciário saudável permite que o Estado possa destinar uma parte maior de recursos públicos para áreas prioritárias, como saúde, educação e segurança.

Mantido o quadro atual, sem reforma da Previdência e sem aumento de impostos, no início da próxima década o governo só terá dinheiro para pagar pensões, aposentadorias e salários de servidores públicos. Isso quer dizer que o Estado ficará de mãos atadas para entregar o que a sociedade espera dele. Com toda a lucidez, o IBGE nos mostra que acabou o tempo de falsas promessas. O Brasil precisa de reformas, sejam elas impopulares ou não. Bom governante é aquele que enfrenta os problemas e busca soluções eficientes. De bla-bla-blá e de demagogias estamos todos cheios.

Brasília, 06h58min

Vicente Nunes