ANTONIO TEMÓTEO
A iminente saída de Henrique Meirelles do Ministério da Fazenda para disputar as eleições presidenciais o colocará em uma situação inusitada. Como chefe de equipe econômica, Meirelles arrasta muita gente, que se acotovela para ouvir o que ele tem a dizer, sobretudo quando o tema é recuperação da economia. Mesmo quando não tem nada a dizer, basta descer na portaria do ministério para ganhar os holofotes. Como ex-ministro, porém, o pré-candidato se tornará mais um na corrida para chegar à Presidência da República. As chances de cair no esquecimento e não decolar são enormes. Será uma guerra para Meirelles lidar com o ostracismo. Não se pode esquecer que, entre a saída dele da Fazenda e o início oficial da campanha, há uma longa jornada de mais de 100 dias.
A capacidade de Meirelles para gerir o país e comandar a política econômica é incontestável. Banqueiros, empresários e investidores são unânimes em defender que ele seria a melhor alternativa para o país a partir de 2019. Entretanto, eleições são ganhas por meio de votos e, com apenas 1% dos eleitores favoráveis ao seu nome, ele ainda patina na corrida eleitoral.
Ao longo dos seus 72 anos, Meirelles fez uma única campanha política. Saiu-se vitorioso, diga-se de passagem, para o cargo de deputado federal pelo estado de Goiás, mas, assim que assumiu o posto, foi convidado pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva para comandar o Banco Central. Pesa ainda contra ele a falta de intimidade com o Congresso Nacional e a inabilidade política para unir diversas correntes de interesse, algo essencial para que a Câmara e o Senado aprovem propostas de interesse do governo.
Desafios
Além do desafio de percorrer o Brasil para se consolidar como alternativa para comandar o país, o quase ex-ministro da Fazenda (ele se filiará ao MDB em 3 de abril) terá de mudar o discurso técnico e carregado de “economês” para uma narrativa palatável à sociedade brasileira. Meirelles não terá a seu favor, durante os próximos meses, níveis de desemprego confortáveis ou dados que comprovem que a recuperação da atividade é robusta e sustentável. Também não está claro qual será sua estratégia de campanha e como se comportará diante do povo.
O chefe da equipe econômica tem apostado nas redes sociais para se tornar mais conhecido. Estima-se que ele já tenha comprometido R$ 5 milhões para se tornar conhecido do grande público. Meirelles tem concedido entrevistas diárias para rádios, jornais e redes locais de televisão. Entretanto, fora do Ministério da Fazenda, o apelo para esse tipo de exposição tende a diminuir. “Ou ele decola ou suas chances de se viabilizar candidato serão enterradas. Há um esforço de apoiadores de Michel Temer para que ele seja candidato a vice na chapa do MDB, mas nem isso está garantido”, diz um interlocutor do presidente da República.
A capacidade política de aglutinar apoio em torno da candidatura será posta à prova a partir do dia em que Meirelles deixar a Fazenda. E não está claro se ele terá êxito na missão de se tornar o preferido dos brasileiros para comandar o país a partir de janeiro 2019. Seus apoiadores dizem que ele não tem mais nada a perder. E deve correr, sem medo, atrás de seu sonho. Vai que a sorte ajuda.
Brasília, 06h31min