Correio Econômico: Juros em queda

Compartilhe

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá hoje pela última vez no ano e reduzirá a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 7% ao ano. Esse será o menor patamar da história. No mercado, a expectativa de boa parte dos analistas é de que o Banco Central (BC) cortará a Selic mais uma vez em fevereiro, no encontro do colegiado marcado para os dias 6 e 7. Apesar da euforia, os sinais de Ilan Goldfajn são cautelosos.

É verdade que 2018 não deve ser um ano de fortes pressões inflacionárias, diante do alto nível de desemprego, que não pressiona os preços, e da recuperação a passos lentos da economia. Essa combinação favorece o processo de redução de juros, mas não são os únicos pontos que devem ser levados em consideração pelo BC na hora da decisão. O próximo ano promete ser de grande volatilidade para os mercados. Assim como em 2014, os rumos da eleição presidencial terão efeito nos preços dos ativos.

A possibilidade de vitória do ex-presidente Luiz Inácio da Silva pode levar o dólar, por exemplo, a patamares semelhantes aos de 2002, acima de R$ 4. Uma vitória petista jogaria por terra a possibilidade de reforma da Previdência, extremante criticada pelo petista. Além da volatilidade em ano eleitoral, as chances de aprovação da reforma da Previdência e da continuidade de uma agenda para melhorar o ambiente de negócios do país estarão nessa conta.

Evidências

Engana-se quem crê que pressões externas não podem se materializar ao longo de 2018. O alerta é da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. Em entrevista recente ao Correio, ela explicou que a forte recuperação da economia dos Estados Unidos, com a taxa de desemprego comportada e dados de atividade surpreendendo positivamente, pode pressionar os índices de preços da maior economia do mundo.

Solange explica que o risco é de que o Federal Reserve (Fed) esteja atrás da curva de juros, o que evidenciaria a necessidade de aumentar a taxa mais rápido do que o esperado anteriormente. “A inflação nos Estados Unidos deve voltar em algum momento e, se houver alguma surpresa, o Fed terá de tomar medidas para evitar que a variação de preços seja superior a sua meta. Esse risco existe”, destacou.

Outro risco pouco analisado também vem dos Estados Unidos e está ligado à possibilidade de a maior economia do planeta entrar em conflito armado com países islâmicos ou contra Coreia do Norte. O clima de tensão entre as duas nações permanece alto. O mercado não sabe precificar possíveis efeitos econômicos causados por guerras. Entretanto, a história mostra uma fuga para portos seguros, o que afetaria a economia brasileira.

Riscos

Assim como avaliaram diversos analistas, a equipe de Ilan Goldfajn conquistou credibilidade por ancorar expectativas, por peitar as pressões políticas e empresariais pela antecipação do ciclo de cortes de juros e por ser extremante transparente. Não me parece que o presidente do BC e sua equipe pretendem ser ousados. Sempre foram extremamente cautelosos e cuidadosos, e os riscos de serem obrigados a subir os juros em 2018 não são desprezíveis.

É claro que todo esse cenário mudará caso a reforma da Previdência seja aprovada. O presidente Michel Temer tem se esforçado ao máximo para encerrar seu mandato com chave de ouro. Sabe que entrará para a história como um chefe de Estado reformista caso consiga aprovar as mudanças nas regras para concessão de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

As negociações têm sido intensas e, mesmo com a materialização de parte desses riscos, a aprovação da reforma da Previdência garantiria ao país mais segurança para enfrentar turbulências. Todas essas variáveis devem ser levadas em conta e o histórico recente mostra que o presidente do BC prefere ser criticado por demorar a tomar uma atitude do que se precipitar e fazer uma escolha errada.

Brasília, 06h54min

Vicente Nunes