Correio Econômico: Inflação em queda

Publicado em Economia

POR ANTONIO TEMÓTEO

 

Quem esperava que a inflação desse sinais de alta já nos primeiros meses de 2018 recebeu um banho de água fria. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação positiva de 0,29% em janeiro — o menor patamar para o mês desde o início do Plano Real — e alcançou 2,86% nos últimos 12 meses. Para se ter uma ideia da surpresa com o resultado, o piso das expectativas do mercado projetava elevação de 0,33% e mediana de 0,41%. O Itaú Unibanco, por exemplo, apostava em aumento de 0,40% e o Bradesco, de 0,41%.

 

A estimativa do Banco Central (BC), apresentada no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) publicado no fim de dezembro, apontava que o IPCA avançaria ainda mais: 0,53%. Nem o governo nem o mercado têm acertado as projeções, mas parece que a inflação continuará controlada, pelo menos em 2018. Diante da melhora do ambiente econômico, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, revisou as expectativas para a carestia. Nas contas da instituição financeira, os preços terão variação de 3,5% até dezembro, ante uma projeção de 3,8%.

 

A alteração foi influenciada pela mudança na hipótese de bandeira tarifária na conta de luz de dezembro, que passou de vermelha para amarela. Isso reduziu a expectativa de inflação em 0,1 ponto percentual. O outro 0,2 ponto percentual está ligados à projeção para o dólar. Na projeção da equipe de Mesquita, a moeda estrangeira chegará ao fim de 2018 cotada a R$ 3,25, e não mais a R$ 3,50. “O real seguiu ganhando força frente ao dólar ao longo do último mês e atingiu, em janeiro, a máxima desde outubro do ano passado. O ambiente externo segue muito favorável para emergentes, apesar da volatilidade recente em alguns preços de ativos globais”, ressalta o economista-chefe do Itaú Unibanco.

 

Na avaliação de Mesquita, a inconstância nos valores parece ser temporária e reflete essencialmente a correção de alguns preços, pois o cenário macroeconômico mundial segue com fundamentos sólidos. Ele aponta, em particular, o crescimento global que sustenta o valor de matérias-primas e contribui para conter a alavancagem de empresas e governos, além de favorecer uma redução da aversão ao risco global. Isso, segundo o economista, explica a perda de força do dólar contra as diferentes moedas, entre elas o real.
Incertezas

 

As principais fontes de preocupação, entretanto, vêm do fronte doméstico. As incertezas quanto à aprovação de reformas e ajustes para reequilibrar as contas públicas permanecem altas e, sem as contas públicas no azul, o país pode sofrer com a alta da inflação. No curto prazo, entretanto, as perspectivas são otimistas. “Os resultados fiscais vêm melhorando na margem e a recuperação da atividade se tornando mais robusta, de modo que o cumprimento da meta fiscal de 2018 é menos desafiador do que nos últimos anos. Assim, o prêmio de risco requerido pelos agentes para investir no Brasil deve permanecer em patamar baixo, para os padrões históricos, contribuindo para uma taxa de câmbio mais apreciada do que projetávamos anteriormente”, diz.

 

Mesquita ainda destaca que, caso a agenda de reformas avance de forma mais rápida ou intensa do que o esperado, uma rápida valorização do real pode ocorrer. Por outro lado, sem ajustes, a tendência seria de encarecimento da divisa norte-americana, fato que impactaria negativamente a inflação. “Os principais fatores de risco para o cenário de inflação seguem atrelados às questões políticas domésticas e à evolução do cenário internacional. Em que pese alguma melhora na margem, a incerteza associada ao cenário político vem dificultando o avanço das reformas e os ajustes necessários para a retomada da economia — em especial, a reforma da Previdência —, o que pode resultar, em algum momento, em piora nos prêmios de risco e pressão sobre a taxa de câmbio”, aponta.

 

Mesmo com as incertezas, o nível elevado de ociosidade da economia pode contribuir para uma queda maior da inflação em 2018. O processo de lenta recuperação e a manutenção do desemprego acima do nível de equilíbrio, sem pressionar o custo de vida, podem resultar numa desinflação mais rápida dos preços, comenta Mesquita. Em especial, aqueles mais sensíveis ao ciclo econômico, como serviços e bens industriais. Com isso, a inércia inflacionária representa um fator de risco de baixa para a inflação de 2018. “A forte queda nos preços dos produtos agrícolas e dos alimentos no varejo no ano passado — decorrente do choque de oferta favorável — contribuiu não apenas para a variação do IPCA (2,9%) abaixo do piso da meta de inflação (3,0%)”, destaca.