A desigualdade continua gritante no Brasil. Apesar de o IBGE ter mudado a metodologia de sua pesquisa, pode-se garantir que o fosso que separa ricos e pobres se aprofundou em 2016, depois de já ter crescido no ano anterior. A disparada da inflação e a recessão que destruiu quase 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e elevou para mais de 14 milhões o total de desempregados prejudicaram, sem dó, a população de mais baixa renda. O rendimento médio de quase a metade da população ficou em R$ 750, 15% abaixo do salário mínimo da época. A remuneração do 1% mais rico alcançou R$ 27 mil, ou seja, 36 vezes superior à dos 50% mais pobres.
O IBGE mostrou que os 10% mais ricos do país concentram 43,4% dos rendimentos. Pela metodologia antiga, esse índice era de 38%, indicando que a desigualdade aumentou diante do estrago provocado pela combinação perversa de inflação alta com retração econômica e desemprego em disparada. Em 2015, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encostou em 11%. No ano passado, ultrapassou os 6%. Os mesmos que sofreram com a carestia ficaram sem trabalho. Numa casa com quatro pessoas, sendo duas desempregadas, a renda per capita despencou. Não por acaso, constatou a FGV Social, a desigualdade medida pelo índice de Gini subiu 1,6% entre 2015 e 2016, depois de 22 anos em queda.
Desastre contratado
A destruição das conquistas sociais obtidas no primeiro mandato de Lula começou em 2010, quando o então presidente descambou para uma política econômica populista e irresponsável para eleger Dilma Rousseff. A gastança excessiva e o descaso com a inflação ficaram evidentes. Depois da posse de Dilma, acreditou-se que o governo retomaria o rumo da responsabilidade, mas o que se viu foi exatamente o contrário. A petista pisou no acelerador das medidas irresponsáveis, acreditando que poderia impulsionar o crescimento econômico do país.
Para isso, ela lançou mão do que chamou de “nova matriz econômica”, um misto de invencionice e de intervenção. Dilma obrigou o Banco Central a reduzir os juros para o nível mais baixo da história, 7,25% ao ano, mesmo com a inflação subindo. Baixou uma medida provisória determinando a redução média de 20% das tarifas de energia elétrica. Mandou a Petrobras congelar os preços dos combustíveis. Criou uma penca de empresas estatais para abrigar aliados políticos. Destruiu os cofres públicos e foi conivente com a corrupção. Tudo isso empurrou o país para a beira do precipício.
Antes de ser destituída do poder, a petista ainda teve um gesto de lucidez ao nomear Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Mas não resistiu à tentação populista e à arrogância. Voltou rapidamente a cometer estripulias sob o falso argumento de que seu governo estava voltado para a proteção dos mais desfavorecidos. A grande verdade, contudo, era que a então presidente estava empurrando novamente para a pobreza parcela da população que havia migrado para a classe C. Dilma, com sua herança maldita, destruiu sonhos e adiou o futuro para muita gente.
Risco das eleições
É possível que, agora, os mais pobres estejam sentindo uma sensação de melhora. Com a inflação caindo, rodando próxima de 3%, abriu-se espaço na renda das famílias para a satisfação de necessidades mais prementes de consumo. Mas tudo indica que a desigualdade continuou aumentando ao longo deste ano. Para se ter uma ideia, o PIB do país só voltará aos níveis de 2013 em meados de 2019. No caso do PIB per capita medido em dólar, serão necessários 10 anos para retornarmos aos patamares de 2014. Será preciso um longo período de crescimento sustentado da atividade.
Toda a destruição de riqueza durante o governo Dilma e o aumento da desigualdade relatado pelo IBGE devem servir de lição neste momento, em que as pesquisas eleitorais apontam para dois candidatos à Presidência da República com discursos extremistas, um de direita, outro de esquerda. Se o país insistir no erro, o resultado será um só: a perpetuação da pobreza.
Brasília, 06h14min