Correio Econômico: Eleições na rua

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POR ANTONIO TEMÓTEO
O fim do prazo para os registros das candidaturas, que terminou ontem, deu início, de fato, ao processo eleitoral. Quem continua indeciso deve começar o dever de casa e analisar as propostas e os currículos de todos os postulantes. As eleições de 2018 são as mais importantes da história. Estados e União estão com as contas públicas em frangalhos. Perderam a capacidade de investimento e têm dificuldade para manter os salários de servidores ativos e aposentados em dia.

Além de escolher o próximo presidente da República e os governadores, o povo precisa estar consciente de que os projetos políticos desses candidatos dependem significativamente dos parlamentares que serão escolhidos. Aos deputados estaduais — e distritais, no caso do Distrito Federal — caberá analisar os projetos de lei para tentar melhorar a vida da população. E caberá a deputados e senadores aprovar projetos essenciais ao reequilíbrio das finanças públicas, para tornar o Brasil mais competitivo e fazer a economia voltar a gerar empregos.

As escolha dos parlamentares será mais importante do que a do presidente da República. A palavra final será deles na hora de analisar as propostas do Executivo para recuperar a economia brasileira. E cabe a eles fiscalizar o que faz o governo. Deputados e senadores são representantes do povo no Congresso, mas se esqueceram disso há muitos anos. Os desafios do próximo presidente e dos congressistas são enormes.

Temos de lembrá-los que 13 milhões de brasileiros estão desempregados. Na melhor das expectativas, o Brasil gastará menos do que arrecada somente em 2022, conforme estimativas do Instituto Fiscal Independente, do Senado Federal. Até lá, a dívida bruta em proporção do Produto Interno Bruto (PIB) pode ultrapassar 84%. Chegou o momento de esquecer quem são os culpados por todos esses problemas e decidir quem tem melhores condições de recuperar o Brasil.

A única certeza é de que não há espaço para populismo, protecionismo, bolsa empresário, bolsa caminhoneiro ou benesses para as categorias que desfrutam de poder. Todos devem dar sua cota de sacrifício para que o Brasil volte a ser uma nação menos desigual. A reforma mais urgente é a da Previdência. O Brasil gasta 14% do PIB com o pagamento de benefícios para segurados e para a assistência social e tem 9% da população com 65 anos ou mais.

Países com essa proporção de idosos gastam, em média, 4,5% do PIB com Previdência e assistência social. Não sou favorável ao fim do nosso modelo, mas ao fim dos privilégios. Além disso, o debate sobre idade mínima é essencial para balizar esse processo. Um brasileiro com 55 anos não deve se aposentar e receber um benefício até os 80. O aumento da longevidade trouxe um enorme desafio e isso afeta significativamente as contas públicas.

Mas, além da reforma da Previdência, que é essencial para que o país volte a receber investimentos e gerar empregos, é necessário escolher um candidato comprometido com medidas microeconômicas para elevar o nível de competitividade da economia. A primeira delas é a tributária. Simplificar o regime tributário brasileiro é essencial para que as empresas possam se dedicar a suas atividades. São gastos milhares de horas para pagar esses tributos.

Temas polêmicos

É preciso mais eficiência na aplicação de todos esses recursos. Além de tapar os ralos da corrupção com concreto, o governo precisa monitorar, fiscalizar e acompanhar com lupa os gastos públicos. Nesse processo, é essencial que a população perceba que os tributos pagos são reinvestidos em melhorias para o povo. E, por fim, o próximo governante precisa fazer robustos investimentos em educação. Crianças, jovens e adolescentes com maior grau de instrução têm potencial para reduzir gastos com saúde e segurança. A educação pode salvar milhões de vidas e garantir melhores salários.

Outro fator determinante nesse processo é a abertura comercial. Fazer negócios com diversos países agrega riquezas sem medidas para a economia. O próximo presidente não terá poucos desafios. Caberá à população ter sabedoria. As pesquisas eleitorais mostraram que o desinteresse do povo no processo eleitoral é enorme. Mas essas pessoas precisam entender que é essencial eleger políticos interessados em trabalhar pela população.

Chega de escolhermos candidatos que trabalharão apenas em interesse próprio e de algumas corporações, sejam públicas, sejam privadas. É preciso enfrentar temas polêmicos e acabar com privilégios. O Congresso precisa deliberar sobre o aborto, sobre o pagamento de auxílio-moradia para magistrados, sobre legalização ou não das drogas e outros temas. Essas questões precisam ser enfrentadas e cabe aos legisladores darem a palavra final.

Cabe ao Legislativo aprovar as leis e mudanças constitucionais que garantirão às gerações futuras a chance de viver em um país melhor. Além disso, os parlamentares são responsáveis por fiscalizar os trabalhos do Executivo e defender os interesses do povo. Os que estão atualmente no Congresso estão mais preocupados em aumentar os salários e garantir a volta das indicações políticas para as estatais.

Parte desses problemas é fruto da falta de responsabilidade dos eleitores, que depositaram os votos nos candidatos e se esqueceram de cobrar o melhor para o país. Mesmo que as circunstâncias apontem para um baixo índice de renovação do Congresso, aqueles que fizerem o dever de casa, de votar em prol da nação e não de olho em interesses particulares, contribuirão para que o Brasil se torne um país menos desigual, mais seguro e que ofereça à população as mínimas condições para trabalhar e viver. Sem reformas e ajustes não haverá empregos, programas sociais, salários para servidores e aposentadorias.

O espaço para o populismo ficou no passado. O que precisa ser feito já é de conhecimento de todos. Resta saber se o povo escolherá colocar o país nos trilhos para o crescimento ou para o atraso. Isso ficará claro em outubro.

Vicente Nunes