Ainda que o governo tente mostrar otimismo, o crescimento da economia deste ano não será tão forte como muitos propagandeiam. E mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) avance os 3% projetados pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tal expansão não será suficiente para impulsionar o mercado de trabalho. Na avaliação de empresários, a criação de vagas será muito gradual. Eles estimam que, ao fim do processo de regularização do emprego, três em cada 10 demitidos durante o pior momento da recessão continuarão engrossando o exército de desocupados.
A visão nada otimista sobre o mercado de trabalho foi passada por um grupo de empresários em conversas com investidores estrangeiros. A justificativa é a de que as empresas aprenderam a conviver com um quadro mais enxuto de pessoal. Durante o período de queda do PIB, de contração do consumo, tiveram que aumentar a eficiência. Também houve absorção de tecnologia. Hoje, produz-se mais com menos. Assim, mesmo que a economia ganhe tração, não será preciso inchar muito a folha de salários. A prioridade será ampliar as margens de lucro.
Os empresários reconhecem que, durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff, exageraram na contratação de mão de obra. Instalou-se no mercado o temor de falta de profissionais. As empresas estavam oferecendo salários elevadíssimos sem qualquer critério. Não se avaliava corretamente a capacidade dos contratados. Mas, como o PIB estava deslanchado e o caixa, cheio, a ineficiência acabava encoberta pelo faturamento cada vez maior. Quando a recessão chegou com tudo, as companhias perceberam que tinham errado em muitas escolhas.
“Portanto, não veremos grandes contratações. O governo fala na criação de pelo menos 2,5 milhões de empregos em 2018, dos quais 1 milhão com carteira assinada. Acho esses números exagerados. Não há como haver tantas vagas”, diz um industrial. “Além de estarmos com grande capacidade ociosa, podemos crescer sem precisar aumentar o quadro de pessoal”, acrescenta. Para ele, os empresários aprenderam a lição. “Ninguém mais vai abarrotar as empresas de gente, sobretudo porque é muito caro demitir”, frisa. “Todos serão mais parcimoniosos nas contratações.”
Destruição
Diante das declarações dos empresários, os investidores não esconderam uma certa angústia em relação aos rumos da economia. Havia uma quase certeza de que a recuperação da atividade seria mais rápida, depois de um tombo superior a 7% entre 2015 e 2016. Historicamente, o Brasil sempre cresceu de forma robusta depois de períodos recessivos. Desta vez, porém, o quadro está sendo totalmente diferente. A destruição provocada pelas estripulias de Dilma Rousseff na economia foi profunda demais. Na melhor das hipóteses, o PIB voltará aos níveis de 2014 somente em 2020.
Para piorar, dizem empresários e investidores, há as eleições presidenciais no meio do caminho. A sete meses do pleito, não se tem a menor ideia de quem sairá vencedor das urnas. A aposta é grande para que um candidato reformista consiga cativar a maioria dos eleitores. Contudo, nenhum dos candidatos que vestem o figurino do mercado — Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Henrique Meirelles e Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados) — empolga. O que acalma os ânimos dos donos do dinheiro é a perspectiva de Lula ficar fora da disputa pelo Palácio do Planalto.
“Teremos que ter muita paciência. A economia vai melhorar, mas não a ponto de influenciar, de forma decisiva, as eleições”, frisa um investidor estrangeiro. Ele acredita que não se repetirá o que se viu em 1994, com o Plano Real, que acabou elegendo Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. “Essa retomada será sem empregos. Isso vai incomodar. Por isso, é difícil acreditar, por exemplo, na candidatura de Meirelles. Ele pode querer muito ser eleito presidente da República, mas não terá votos suficientes para isso. Na verdade, ainda duvidamos se ele realmente disputará o Planalto”, diz.
Brasília, 06h08min