Correio Econômico: Barbosa e Dilma

Publicado em Economia

Com seus expressivos 10% nas pesquisas de intenção de voto, Joaquim Barbosa entrou com tudo no radar dos investidores. Todos se perguntam que governo fará o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) caso os eleitores lhe concedam a vitória no pleito marcado para outubro próximo. Barbosa é visto como uma pessoa de difícil trato, muito parecido com a petista Dilma Rousseff, que foi apeada do poder por um Congresso totalmente hostil a ela. O PSB, partido pelo qual o ex-ministro deverá concorrer nas eleições, sempre se posicionou contra as reformas, sobretudo a da Previdência Social.

 

Mesmo com toda a repercussão em torno de sua candidatura, Barbosa mantém distância do debate. Por isso, toda a angústia dos donos do dinheiro. Olhando para o passado, os investidores tentam traçar um retrato do futuro. E, para eles, é difícil ver o ex-ministro do Supremo como um presidente conciliador, disposto a negociar com deputados e senadores projetos de interesse do governo. Também não o veem como uma pessoa aberta a receber sugestões, tampouco acreditam que ele tocará uma agenda mais liberal na economia, seja por convicções próprias, seja pelas posições históricas do PSB.

 

Os investidores não descartam uma metamorfose de Barbosa durante a campanha. É comum os candidatos assumirem uma postura amigável, aberta ao diálogo. O problema é depois da posse. Não por acaso, querem saber logo quem será seu ministro da Fazenda. Foi assim com Jair Bolsonaro, quando ele assumiu a vice-liderança das pesquisas. O deputado era repudiado pelo mercado por causa de seu discurso nacionalista. Tão logo anunciou o economista Paulo Guedes como o chefe de sua eventual equipe econômica, passou a ser palatável aos olhos dos donos do dinheiro.

 

Algoz do PT

 

Nos cenários que traçam para as eleições, os investidores veem grande possibilidade de Barbosa, com um discurso anticorrupção, massacrar uma candidatura de centro-direita. Nem Geraldo Alckmin (PSDB), nem Rodrigo Maia (DEM), nem Michel Temer (MDB) e nem Henrique Meirelles (MDB), apresentados como opções dentro desse espectro político, teriam chances de chegar ao segundo turno. Barbosa, mesmo tendo sido algoz do PT ao trabalhar veementemente para que o STF condenasse vários integrantes do partido pelo mensalão, tem forte potencial para atrair parte do eleitorado que ficou órfão da candidatura de Lula.

 

A tendência, daqui por diante, é de haver uma pressão maior dos investidores para que Barbosa mostre a cara. A arma principal: a volatilidade do mercado. Vão atribuir o sobe e desce da bolsa de valores e do dólar aos riscos trazidos pela candidatura do ex-ministro do Supremo, um outsider da política. Isso não quer dizer que, mais à frente, quando o quadro eleitoral ficar mais claro, os donos do dinheiro não possam eleger Barbosa como candidato preferencial, especialmente se Ciro Gomes (PDT), com seu discurso radical, conseguir se firmar como o representante mais viável da esquerda.

 

Quem conhece Barbosa assegura que ele não vai se precipitar nem ceder a pressões. Sua candidatura só será sacramentada em agosto próximo, quando tiver certeza de que realmente é viável eleitoralmente. O ex-ministro do Supremo diz a amigos que não é chegado a aventuras e que, quando — e se — assumir efetivamente a disputa pelo Palácio do Planalto, apresentará um plano econômico consistente, equilibrado. Ele é a favor da privatização de estatais que não sejam consideradas prioritárias pelo Estado e comprometido com o equilíbrio das contas públicas. Seu governo, contudo, não encapará um projeto radical de reforma do sistema previdenciário.

 

A incógnita Joaquim Barbosa chegou para mexer com os nervos de todos. De agora em diante, nenhum debate político será levado adiante sem que o ex-ministro do STF tenha o papel de protagonista.

 

Brasília, 06h20min