A orientação entre os homens de negócios é aproveitar o reforço no consumo das famílias dado pela inflação baixa e pelos menores juros da história para tocar projetos de expansão. Não será nenhum furor, mas a aposta geral é de que os investimentos produtivos vão crescer mais do que o PIB em 2018. Pelos balanços de empresas e bancos divulgados nos últimos dias, pôde-se perceber que a recessão virou passado e que os lucros voltaram com tudo. Apenas as quatro maiores instituições financeiras do país registraram ganhos de R$ 65 bilhões em 2017, quando o crescimento foi de mero 1%.
Empresários e investidores estão tão céticos em relação a Brasília, que não acreditam no sucesso do governo para aprovar as 15 medidas apresentadas como plano B depois do enterro da reforma da Previdência. Na melhor das hipóteses, dizem que apenas a proposta que prevê a privatização da Eletrobras tem chance de sair do campo das promessas. Por uma razão simples: tem a simpatia do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. O resto ficará para o futuro presidente, até pelo calendário que está colocado. Copa do Mundo em junho e julho. Depois, eleições.
Desejo latente
Para os donos do dinheiro, se Brasília não atrapalhar e o mundo não provocar turbulências diante de uma mudança brusca na política de juros dos Estados Unidos, teremos pela frente boas perspectivas para reduzir o exército de 26,4 milhões de brasileiros que estão sem trabalho ou subempregados. O desejo latente entre eles é de que o Banco Central dê pelo menos mais um estímulo à economia, cortando a taxa básica de juros (Selic) novamente em março, de 6,75% para 6,50%. É pouco, mas o efeito psicológico será enorme, pois indicará a confiança da autoridade monetária no controle da inflação.
Os índices de preços vêm surpreendendo para baixo. O IPCA-15, prévia da inflação oficial, cravou alta de 0,38% em fevereiro, com a taxa acumulada em 12 meses cedendo de 3,02% para 2,86%. Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), o custo de vida é o menor dos problemas agora. Os preços dos alimentos estão ajudando, pois a safra agrícola continua surpreendendo, e a energia elétrica deu um bom alívio no bolso dos consumidores. Portanto, ressalta ele, é bem provável que o BC volte, sim, a promover mais uma baixa da Selic.
“Do ponto de vista econômico, estamos num bom momento. Se houver surpresas, será para melhor. Meus modelos econômicos estão indicando crescimento para este ano de 3,6%, podendo chegar a 4%. Esse avanço maior do PIB permitirá o aumento da arrecadação, que tornará menos complicado o cumprimento da meta fiscal”, diz Velho. Nesse contexto, não se espera uma explosão da dívida pública em relação ao PIB, que está em 75%. “Só há uma ressalva no horizonte: é importante que a economia mundial caminhe relativamente sem turbulências”, acrescenta.
Fora da pauta
Velho acredita que a reforma da Previdência não entrará mais na pauta do Congresso neste ano, nem mesmo em novembro, depois das eleições presidenciais. Para ele, caberá ao próximo presidente, independentemente se de esquerda ou de direita, a tarefa de promover mudanças no sistema de aposentadorias. Ele lembra que na Grécia e em Portugal, a despeito das ideologias, os partidos que assumiram os governos em meio a uma gravíssima crise internacional fizeram as reformas e os países se recuperaram da recessão.
O economista destaca ainda que os investidores estão convencidos de que, com Lula ou sem Lula na disputa pela Presidência da República, um candidato mais de centro, comprometido com as reformas, acabará saindo vencedor das urnas. “O bom é que a sociedade está se convencendo da importância das reformas. A propaganda do governo dizendo que as mudanças na Previdência têm por objetivo combater privilégios pegou. Com certeza, isso ajudará o próximo presidente”, frisa. Velho ressalta também que a expressiva valorização da bolsa de valores, que está em alta consecutiva há oito pregões, é uma antecipação dos bons resultados que a economia mostrará daqui para frente.
Brasília, 06h32min