Técnicos da agência de riscos Standard & Poor’s (S&P) vêm acompanhando com lupa os acontecimentos mais recentes do Brasil. Há uma preocupação enorme com o péssimo desempenho da economia, que pode registrar retração de até 2% neste ano e novo tombo em 2016.
Em conversas com analistas de mercado, a S&P não descarta o rebaixamento do país, que está a um passo de perder o grau de investimentos. Os técnicos da agência ressaltam, porém, a importância de o Brasil estar passando por um processo de depuração, limpando mazelas como as maquiagens fiscais e reduzindo a corrupção na Petrobras.
No entender da S&P, se o preço a ser pago pelo Brasil for a retração do Produto Interno Bruto (PIB) por estar botando as contas públicas em dia com transparência, aumentando as taxas de juros para derrubar a inflação e limpando a Petrobras por meio da Operação Lava-Jato, a tendência é de haver complacência. A chancela de bom pagador do país será mantida.
Os técnicos da S&P ressaltam que o ajuste fiscal prometido pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está no caminho certo, independentemente dos percalços impostos pelo Congresso. Mesmo que o governo não consiga atingir a meta de superavit de 1,2% do PIB neste ano, o importante é a direção, que, neste primeiro momento, parece correta.
Na avaliação da agência, Dilma Rousseff não pode retroceder no ajuste, mesmo que a pressão de seu partido, o PT, seja forte, em nome das eleições de 2018, quando Lula deverá ser o candidato à sucessão presidencial. Se não houvesse uma mudança de postura do governo, depois do desastre dos últimos quatro anos, o Brasil quebraria e levaria anos e anos para se reconstruir.
O fato de a Justiça estar levando, sem interferência, a Operação Lava-Jato, que envolve políticos de calibre, também merece destaque, na avaliação da S&P. Para os técnicos da agência, se um caso de corrupção como a da Petrobras ocorresse no México, certamente o resultado seria diferente, com muita coisa abafada.
Isso comprova, segundo a S&P, a força das instituições brasileiras e a maturidade do país. A percepção na agência é de que, depois do estrago feito pelas “pedaladas” fiscais, que podem comprometer a aprovação das contas de 2014 do governo Dilma — o Tribunal de Contas da União (TCU) dará seu parecer hoje —, nenhum governo se arriscará a novamente pôr em risco os pilares da economia.
Quanto à corrupção, a percepção da S&P é de que, depois do escândalo da Petrobras, a roubalheira tenderá a diminuir, sobretudo se as investigações forem até o fim e os culpados por desviarem tanto dinheiro da maior estatal do país forem para condenados com rigor e presos.
O emprego sumiu
Ainda que a S&P tenha sinalizado complacência com o Brasil, o governo terá tempos difíceis pela frente. O desemprego está mostrando a sua face cruel mais rapidamente que o esperado. Os números de maio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que estão de posse do Planalto são assustadores.
A perspectiva era de que os dados fossem divulgados no início desta semana. Mas a opção foi por segurá-los num momento de grande embate entre o governo e as centrais sindicais, por causa do fator previdenciário. Comprovar o grande fechamento de postos formais de trabalho só alimentaria o discurso contra a atual política econômica.
As previsões mais otimistas do mercado financeiro, feitas pelo Banco Icatu, apontam o fechamento líquido (contratações menos demissões) de 30 mil postos no mês passado. As mais pessimistas, do Banco Fator, indicam que 124 mil vagas desapareceram.
Técnicos do governo reconhecem que o emprego sumiu. O mercado de trabalho foi o último a sentir o baque da crise e, infelizmente, será o último a se recuperar quando a economia se fortalecer. As empresas seguraram o quanto puderam para cortar pessoal, porque demitir no Brasil custa caro. Chegaram ao limite, ao fim da linha.
Entre integrantes da equipe econômica, a visão é de que o custo unitário da mão de obra no Brasil continua alto, o que pressiona a planilha de gastos do setor produtivo. Além disso, o mundo está crescendo pouco, o real não se desvalorizou o suficiente para dar competitividade às exportações e o país convive com um aperto gigantesco.
Os analistas mais pessimistas acreditam que o desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país, que está em 6,4%, pode chegar a 10% no fim do ano. Já a Pnad Contínua, que reflete o mercado de trabalho em todo o país, tende a disparar para 12% ou 14%, ante os 8% atuais.
Com o desemprego nesses níveis, ruiu o último pilar do discurso do governo, de que todas as medidas tomadas nos últimos quatro anos foram para proteger o mercado de trabalho. Na verdade, os truques fiscais, os malabarismos com as contas públicas, só contrataram o pior. A conta, todos nós sabemos quem está pagando.
Brasília, 08h59min