Combate ao ódio à população LGBTQIA+ requer ações coordenadas

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MÔNICA CABAÑAS, de Genebra

Ao empreender a luta contra a violência de toda ordem e nível, a dificuldade de acesso às políticas públicas tais como educação e saúde, tanto na esfera federal quanto nas estaduais e municipais, a xenofobia, a intolerância, o ódio e a precariedade de oportunidades de empregos formais por que passam as populações LGBTQIA+ não são uma exclusividade vivida no Brasil. Por este motivo, quando se busca defender os direitos e ampliar oportunidades para abrir espaços a esta população, se faz necessário estar aberto a estabelecer parcerias, cooperações, intercâmbio de conhecimento, realidades e experiencias, no Brasil e no mundo.

Em sua primeira missão internacional como integrante do governo federal brasileiro a secretaria Nacional dos Direitos da População LGBTQIA+, Symmy Larrat, acompanhou o ministro Silvio Almeida na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, de 27 de fevereiro a 03 de marco, em Genebra, Suíça. Além das atividades da agenda oficial do Conselho, a secretaria participou de um encontro com ONGs e atores sociais de Genebra com o objetivo principal de troca de experiencias e intercâmbio de informações sobre temas importantes para a população LGBTQIA+. Participaram do evento Zaq Guimaraes, artista plástico e presidente da associação PVA (https://pvageneve.ch), Effie Alexandra, trabalhadora social da Associação 360 (https://association360.ch), Angela Wiebusch, uma das fundadoras do Comitê Internacional Lula livre Genebra, e Denise da Veiga Alves, advogada brasileira que trabalha com populações vulneráveis em Genebra.

Após conhecer as instalações da Associação 360, Symmy relatou aos participantes da reunião a importância de sua passagem por Genebra. Ela considera que sua participação na Reunião do Conselho de Direitos Humanos busca dar visibilidade e representatividade às populações LGBTQIA+ e ao trabalho que está desenvolvendo à frente da Secretaria.

Durante a reunião foram discutidas quais são as abordagens, tanto no Brasil quanto na Suíça, de temas como intolerância de origem religiosas, terapias de reversão, linguagem inclusiva, diferentes tipos de violência, preconceito, problematização social, estatísticas e informações sobre suicídio e xenofobia, transfeminicídio e relatórios produzidos nos dois países sobre tais assuntos, Parada Gay de São Paulo, Fórum Mundial, representação política, tipificação de crimes transfóbicos, entre outros assuntos.

Ao ser perguntada sobre as estatísticas sobre violência e suicídio, Symmy citou relatórios e estudos produzidos pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Entre 2017 e 2022, ocorreram um total de 912 assassinatos de pessoas trans e não binárias no Brasil, sendo 131 casos somente no ano passado. Segundo a secretária, a maioria dessas pessoas foram mortas no exercício profissional e aproximadamente 80% delas eram travestis. Sobre intolerância de origem religiosa, a secretária citou igrejas evangélicas inclusivas, como a Reverenda Alexya Salvador, por seu trabalho de relevância junto às populações LGBTQIA+.

“…Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte,
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
com ferros morri,
Eu não sei se um anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama,
E o céu não pode esperar,
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim quer me buscar…”

Ao citar um trecho da música “Balada de Gisberta” do poeta, compositor e cantor português Pedro Abrunhosa e cantada por Maria Bethânia, Symmy falou sobre xenofobia e transfobia e contou a história da brasileira Gisberta Salce, que se transformou no ícone de luta LGBTQIA+ em Portugal e no mundo. Gisberta foi assassinada brutalmente em fevereiro de 2006 na cidade do Porto e este crime hediondo gerou protestos, em Portugal e no Brasil, de entidades de direitos humanos, como também das representações LGBTQIA+ e da própria sociedade portuguesa.

O assassinato da brasileira foi mais um capítulo da flagrante intolerância e do ódio contra as transsexuais latinas, que migram para Europa em busca de oportunidades e melhor qualidade de vida. Por ter se transformado em um símbolo de luta contra a violência e a transfobia, Gisberta inspirou poetas, cineastas, escritores e dramaturgos a contar sua história. A brasileira teve seu nome aprovado para virar nome de rua na cidade do Porto, contou a secretaria. Ao finalizar a reunião, Symmy se colocou à disposição das organizações que participaram do evento e manifestou seu interesse de aprofundar o intercâmbio e a cooperação, como também de ampliar o diálogo em ocasião futura.

Vicente Nunes