COM O BOLSO ALHEIO

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A presidente Dilma Rousseff já escolheu quem pagará a conta dos erros que ela cometeu nos primeiros quatro anos de mandatos: os trabalhadores. Por mais que o Palácio do Planalto reforce a necessidade de repartir os esforços, sinalizando com possíveis cortes nos gastos públicos, quase todo o arrocho ao qual o país será submetido para tentar evitar a perda do selo de bom pagador será feito por meio do aumento de impostos.

A receita está clara. Enquanto a população pagará a conta, o governo continuará inchado, um verdadeiro cabide de empregos para apadrinhados. Já o Legislativo manterá seus nacos de poder na Esplanada dos Ministérios, sem abrir mão das emendas parlamentares, verdadeiros focos de corrupção. O remédio amargo que Dilma diz ser necessário aplicar ao país já foi prescrito aos pobres mortais, que sofrem para fechar as contas do mês, devastadas pela inflação galopante e pelo desemprego.

O aumento de tributos foi o caminho mais fácil encontrado pelo governo para indicar aos agentes econômicos que ainda é possível reverter o deficit de R$ 30,5 bilhões previsto no Orçamento de 2016. Mas o ajuste que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pretende apresentar, seja elevando o Imposto de Renda da Pessoa Física, seja tornando a gasolina mais cara por causa da alta da Cide, não significará mudanças efetivas na forma de lidar com o dinheiro público. Na verdade, impostos maiores continuarão sendo a fonte de financiamento da ineficiência e dos desmandos.

Dilma, como o ex-presidente Lula, perdeu a grande chance de fazer as reformas estruturais que o país tanto precisa para crescer de forma consistente, sem traumas. Quando assumiu o mandato, em 2011, ela ostentava índices de popularidade nunca vistos para um presidente da República desde o processo de redemocratização. A falsa fama de gerentona disposta a varrer a corrupção do governo lhe garantia apoio suficiente no Congresso para estancar muitos dos ralos por onde escorre o dinheiro dos contribuintes.

A opção, no entanto, foi pela gastança, pelas pedaladas fiscais, pelas maquiagens nas contas, por manobras que criaram a falsa ilusão de que tudo estava indo bem no país. Dilma governou nos últimos quatro anos com a certeza de que os recursos provenientes de empresas e cidadãos eram infinitos. Bastava estalar os dedos que o caixa do Tesouro Nacional seria reposto. O resultado dessa farra serão três anos seguidos de rombos nas finanças federais. Brasil de joelhos Agora, com o Brasil de joelhos e o mandato ameaçado, a presidente acredita que pode meter a mão no bolso dos trabalhadores e obter o dinheiro extra que precisa para fechar as contas. O consenso dentro do governo é de que não há outra alternativa, uma vez que o inchaço da máquina pública na era petista foi enorme, criando gastos difíceis de serem cortados. Nesse contexto, para dizer que está fazendo sua parte, Dilma aceitará deixar de tocar novos programas, muitos deles considerados inviáveis desde a concepção, devido às claras restrições orçamentárias da União.

Como bom produto de marketing, Dilma e os poucos asseclas que ainda lhe restam trataram de espalhar que o aumento de tributos será transitório, até que as finanças sejam recompostas com a retomada da economia. O histórico do governo aponta, porém, que, em se tratando de impostos, nada é transitório, basta, para isso, ver a evolução da carga tributária. Quinze anos atrás, o total de recursos transferidos da sociedade para o governo era inferior a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Agora, caminha para 36%, um dos mais elevados do mundo, a despeito de o Congresso ter enterrado a CPMF, que a petista estava disposta a ressuscitar.

Na ânsia de defender o aumento de tributos, o ministro da Fazenda afirma que o Imposto de Renda cobrado nos contracheques dos trabalhadores é pequeno em relação ao observado nas economias desenvolvidas. Ele se esquece de dizer, porém, que a estrutura tributária do país é complexa, com um grande número de impostos pagos de forma indireta.

Enfim, para o governo, no país da corrupção e do desperdício, não faz mal algum exigir que a sociedade pague mais impostos. Pode haver gritaria no início, mas todos acabarão pagando a conta. Sempre foi assim, e não pode ser diferente agora, com Dilma precisando tanto dar uma resposta às agências de risco que estão a um passo de chancelar o Brasil como caloteiro. Esse, na visão da presidente,  é o Brasil que dá certo. Então, tá. Apostas na mesa » Vários analistas estão apostando até quando Dilma conseguirá levar o discurso ortodoxo que adotou nos últimos dias para convencer os agentes econômicos de que está disposta a fazer o ajuste fiscal defendido por Joaquim Levy.

BC será o contraponto » Técnicos do Ministério da Fazenda dizem que a presidente da República está convencida de que, confirmadas as receitas para cobrir o rombo no Orçamento de 2016, o Banco Central começará a pavimentar o caminho para a queda dos juros.

Brasília, 00h10min