“Com Dilma no poder, PIB cairia 4,9% neste ano”, diz Sérgio Vale

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POR ROSANA HESSEL

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, vê com bons olhos a nova equipe econômica e o governo do presidente interino, Michel Temer. Para ele, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, o Produto Interno Bruto (PIB) voltará a crescer no ano que vem, com a volta dos investimentos produtivos e a sinalização de um ajuste fiscal mais consistente. Na avaliação de Vale, se a petista continuasse no cargo, a situação das contas públicas ficaria ainda pior, com a retração da chegando a 4,9% neste ano e a 2,5% em 2017.

“A mudança de governo trouxe um alívio. Por isso, esperamos aumento no PIB de 2% ano que vem e não me surpreenderia se vier mais do que isso”, afirma ele, antecipando uma revisão das estimativas atuais, de avanço de 0,6%. “Basta pensar o que seria se a presidente Dilma não tivesse saído. A recessão se estenderia até 2018. Os números fiscais piorariam a ponto de a dívida pública bruta poder chegar a 90% do PIB no começo de 2019”, avisa.

Pelas contas do economista, o deficit primário anunciado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de R$ 170,5 bilhões neste ano, saltaria, com Dilma para R$ 300 bilhões em 2017. O resultado seria mais desemprego, com o país mergulhando em uma profunda depressão. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista de Vale ao Correio.

 

É possível retomar o crescimento com o governo Temer?
Não apenas é possível, como é altamente provável. É difícil acreditar que seja possível repetir a recessão que se estende desde 2014. O novo governo, mesmo não tendo apresentado nenhuma proposta concreta ao Congresso ainda, apresenta duas virtudes essenciais para quem quer sinalizar crescimento: transparência e competência, especialmente, no núcleo mais desorganizado, a economia. A ideia de colocar às claras todo o deficit público, explicitando os esqueletos deixados por Dilma Rousseff, mostra um governo que vai tentar seguir as regras minimamente. Mais ainda, as pessoas chaves na economia trazem tranquilidade, pois tendem a apresentar medidas que tenham pé e cabeça, diferente de antes. Por fim, agora, temos um presidente que não tentará ser senhor da razão sobre detalhes ínfimos. Esses ganhos não são pequenos e tendem a desafogar a economia sem muita dificuldade. Vale lembrar o período Collor (1990-1992). Nos seis meses em que a crise foi mais aguda, a indústria caiu em média 11% a cada mês na comparação interanual. Dois meses depois, e até o final de 1993, a indústria passou a se expandir, em média, quase 11% a cada mês, apenas por efeito positivo das expectativas com a troca de governo. É por isso que esperamos aumento no PIB de 2% no ano que vem e não me surpreenderei se vier mais do que isso.

 

Quando isso vai acontecer e de que forma? Qual será a trajetória da dívida pública?
A volta do crescimento não é para este ano. Alguma melhora nos dados de PIB, na margem, já pode acontecer no segundo semestre. Mas a recuperação efetiva só ocorrerá em 2017, inclusive no mercado de trabalho, que ainda terá alta de desemprego em 2016. Da mesma forma, não é possível esperar reversão forte dos números fiscais. Independentemente de qual será o número deste ano, se o governo sinalizar caminhar para zero de deficit no ano que vem, já está de bom tamanho. E talvez não seja tão difícil. Se, neste ano, o deficit do governo central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central) terminar em R$ 150 bilhões (menor que a estimativa oficial de R$ 170,5 bilhões), com os ajustes que serão feitos, para chegar a zero no ano que vem, precisaríamos de queda real de gastos de 2,5% e aumento real de receita de 4,5%. Ou seja, nada impossível, especialmente, pela receita, que pode ter uma recuperação importante se houver crescimento da economia. A dívida pública bruta deverá bater, no ano que vem, em 80% do PIB, mas a tendência seria muito pior se fosse feito.

 

O que falta para a confiança dos agentes econômicos voltar?
Basta pensar o que seria se a presidente Dilma não tivesse saído. A recessão se estenderia até 2018, com queda de PIB no ano que vem de pelo menos 2,5%. Os números fiscais piorariam a ponto de a dívida pública bruta chegar a 90% do PIB no começo de 2019. O deficit primário facilmente bateria em R$ 300 bilhões ano que vem, considerando que, neste ano, chegaria em R$ 200 bilhões. O risco fiscal pioraria o quadro de inflação, que se manteria acima do teto da meta (de 6,5%), e o dólar bateria, facilmente, em R$ 5. Esse cenário catastrófico alternativo é o que precisa estar na cabeça de todo mundo que poderá começar a achar que crescer 2% no ano que vem é pouco. Quando se percebe que tudo isso foi evitado, gradativamente, a volta à normalidade resgatará a confiança. Quando o governo Itamar Franco (que sucedeu Collor) surgiu, ninguém o via como um líder carismático para tirar o país do caos. Mesmo assim, a queda de 0,5% de PIB em 1992 virou alta de quase 5% no ano seguinte.

 

A nova equipe econômica tem nomes fortes, que foram bem aceitos pelo mercado. Mas só isso é suficiente para a retomada?
Não é suficiente, mas é mais do que necessário. Pensar políticas econômicas de qualidade dependem, inicialmente, de uma boa equipe. Há muito tempo não tínhamos isso e, finalmente, os principais postos na área econômica estão nas mãos de quem entende do que está falando. Mais ainda, é uma equipe integrada, não é como o falso triunvirato que se forjou em 2015 com a Fazenda, o Banco Central e o Planejamento. Naquela época, Joaquim Levy (ex-Fazenda) estava claramente sozinho e o triunvirato verdadeiro incluía Dilma Rousseff. Desta vez, há um triunvirato com um presidente que coordena, que arbitra e não que quer decidir sobre o futuro de qualquer alfinete. Esse ganho não é pequeno para um país em que o presidente tem poder alavancado com as medidas provisórias. Sabendo fazer o trabalho com o Congresso com um mínimo de normalidade, pode-se conseguir muito, mesmo que não seja tudo que se deseja em termos de reformas.

 

Quais são os principiais desafios do novo governo? O que é preciso para enfrentá-los?
A maior expectativa recairá menos nas medidas em si, que serão de boa qualidade, mas na capacidade de aprová-las no Congresso. Todo mundo estará de olho nas primeiras propostas e como e quão rápido serão aprovadas. O grande papel de Temer não deverá ser o de aprovar as reformas que desafiam o país há tanto tempo, como a da Previdência, a tributária e a trabalhista. Quem sabe, alguma coisa poder sair daí. O mandato dele será o do evitar a ampliação do desastre, entregando a casa minimamente em ordem para quem entrar em 2019. Não se pode, nem se deve, pedir mais do que isso. O trabalho de destruição dos últimos anos não permite avanços muito mais significativos do que apagar o grande incêndio que a presidente Dilma proporcionou.

 

Brasília, 17h01min