Ainda que o Palácio do Planalto esteja confiante em uma vitória na Comissão de Comissão e Justiça (CCJ), contabilizando 39 votos para barrar a aceitação da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, a situação do peemedebista é complicada. Temer ficou em desvantagem já na largada, quando o deputado Sérgio Zveiter, relator da denúncia encaminhada pela Procuradoria-Geral da República, decidiu dar prosseguimento ao processo.
Além de criar mais um constrangimento político para o presidente, o relatório de Zveiter, do PMDB do Rio, indica que Temer perdeu apoio dentro do seu próprio partido. Esse enfraquecimento tende a propagar uma onda de abandono do governo pelos partidos da base aliada, a começar pelo PSDB, que está muito dividido sobre continuar ou não dando sustentação ao peemedebista. A cada dia, a fragilidade de Temer se torna mais evidente.
A sessão da CCJ foi acompanhada com lupa pelos investidores, que não esconderam a surpresa com a força do relatório de Zveiter. No momento em que o deputado disse que, “no mínimo, existem fortes indícios de práticas delituosas” cometidas por Temer, os donos do dinheiro se convenceram de que a situação do presidente se agravou muito e o fim do governo ficou mais próximo. Como diz um banqueiro, “o caminho de volta ruiu, não há como reconstruí-lo”.
Chamou muito a atenção dos investidores a acusação de vários deputados da base aliada que foram substituídos na CCJ para garantir votos a Temer. As palavras enfáticas usadas pelos parlamentares de que o governo estava “comprando” uma vitória falaram muito alto junto à opinião pública. “Não vemos uma grande mobilização popular pedindo o afastamento de Temer. Mas cenas como a que vimos na CCJ ajudam a inflar o descontentamento, que pode desaguar nas ruas”, afirma o banqueiro. “E se as ruas se manifestarem, não haverá como a Câmara recusar a denúncia contra o presidente”, acrescenta.
A força das ruas
Apesar da situação complicada de Temer, muita gente do mercado não se arrisca a dizer que ele está morto. “Ainda há chance de o plenário da Câmara barrar a denúncia de corrupção passiva. Conseguir 342 votos para autorizar o Supremo Tribunal Federal a investigar o presidente será muito difícil”, assinala um executivo de um banco estrangeiro. Para ele, porém, o eventual fim do governo Temer está mapeado pelo mercado. Ontem, por sinal, a Bolsa de Valores de São Paulo subiu 1,13% e o dólar caiu 0,70%.
Isso mostra, no entender dos analistas, que uma possível substituição de Temer pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não alterará muito os rumos. Pode atrasar um pouco mais a reforma da Previdência, mas, em algum momento, as mudanças no sistema previdenciário serão feitas. “Muitos acreditam, inclusive, que a reforma sairá mais fácil com Maia do que com Temer, devido à comoção que tomou conta do país”, acrescenta um técnico do governo. “Temos conversado muito com os investidores e percebemos que eles perderam o medo de uma eventual troca de governo agora”, relata.
O que mantém os investidores menos pessimistas é o fato de a economia, mesmo que lentamente, estar saindo do atoleiro. Há fatos a comemorar: a inflação deve fechar o ano entre 3% e 3,5%, os juros tendem a ceder dos atuais 10,25% para 8,25% até dezembro — no fim deste mês, o Banco Central cortará a taxa básica em mais um ponto — e o desemprego parou de piorar. “Melhor seria se a política estivesse ajudando a economia. Mas o importante é ver que, independentemente de todas as turbulências em Brasília, estamos mantendo a serenidade. Tomara que continue assim”, afirma um dos maiores construtores do país.