Coluna no Correio: Seja o que Deus quiser

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O governo está preparado para o tudo ou nada. Na expectativa de uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda nesta semana, a ordem do Palácio do Planalto é unificar o discurso e se apegar, o quanto for possível, às notícias boas que vêm da economia. Na próxima sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), e tudo o que Temer quer é um número positivo.

Na China, para onde embarca hoje, o peemedebista tentará mostrar que, mesmo com toda a sua fragilidade política, é a opção menos tortuosa para que o país chegue ao fim de 2018 de pé. O governo colheu, nos últimos dias, indicadores a fim de reforçar o discurso de que a economia saiu efetivamente da recessão e que, se houver surpresas, elas serão positivas. O recado nessa direção foi explicitado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele já fala em crescimento de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2018.

Não custa lembrar que o mesmo Meirelles foi o primeiro a dizer, logo após a posse de Temer, que o país sairia rapidamente da recessão, puxado pela política econômica responsável que passaria a ser executada a partir daquele momento. Muitos acreditaram no discurso ufanista, que foi mostrando-se vazio a cada número tornado público. Descobriu-se que a equipe técnica apresentada como a salvadora da pátria não foi capaz de arrumar as contas públicas. Preferiu continuar tapando buraco e deixar o serviço para o próximo governo.

Desta vez, contudo, é possível que não haja frustração. Mas não porque o governo tenha feito a parte dele. Na verdade, famílias e empresas preferiram se descolar da política e tocar a vida. A recessão gravíssima na qual o Brasil mergulhou fez o trabalho sujo e corrigiu parte dos erros cometidos pela administração de Dilma Rousseff. Derrubou a inflação, o que melhorou o poder de compra dos trabalhadores, abriu espaço para a queda dos juros e forçou a redução do endividamento. A vida real falou mais alto.

Bandalheira

Resta torcer para que a política dê uma mãozinha. Há questões importantes que precisam ser aprovadas no Congresso o mais rapidamente possível, a começar pela mudança das metas fiscais deste ano e de 2018. Até quinta-feira, o governo terá que enviar ao Legislativo a proposta de Orçamento para o ano que vem. Sem as novas metas, tudo ficará capenga. Temer acredita que, mesmo de longe, será capaz de evitar o pior. Para isso, remanejou pelo menos 140 cargos de segundo e terceiro escalões. Amaciou a ala mais fisiológica da base aliada.

“Faz parte do roteiro o governo mostrar confiança. Para nós, no entanto, o que realmente importa é que a economia real se mantenha descolada de Brasília. Cansamos de tanta bandalheira”, diz um empresário. “Se a inflação permanecer baixa, o que acreditamos, e os juros continuarem baixando, já será um ótimo negócio. De confusão política, estamos cheios. Queremos ver o consumo e a produção crescendo”, acrescenta. Para o empresário, certamente a nova denúncia da PGR contra Temer tenderá a ser pesada. “Isso, porém, já está no preço. Vida que segue.”

Mais do que a nova denúncia contra Temer, o que realmente importa para os donos do dinheiro é o resultado das eleições de 2018. “O atual governo é de curto prazo, vai acabar logo. O que precisamos é de uma visão de longo prazo. A incapacidade de vislumbrar o que sairá das urnas, sim, é um grande problema”, reforça o mesmo executivo. Como bem ele ressalta, nunca é demais lembrar que tudo pode piorar.

Vicente Nunes