Coluna no Correio: Precisamos falar sobre Bolsonaro

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LEONARDO CAVALCANTI

Há um certo consenso entre analistas políticos e marqueteiros quando o assunto é Jair Bolsonaro. Seja por fé nos dados eleitorais, seja por simples torcida, a expectativa é a de que o deputado federal perca força com a proximidade do primeiro turno. Na lógica — ou simples vontade —, o político tende a diminuir de tamanho sem a polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o pouco tempo de televisão e, por fim, pela própria fragilidade de propostas, que se resumem a um discurso agressivo na área de segurança pública. A questão a partir daqui é saber qual o tamanho dessa queda, caso ela ocorra.

A partir da pesquisa Datafolha e de entrevistas com quem acompanha o cenário eleitoral, é possível chegar a algumas considerações. Com a margem de erro, Bolsonaro teria entre 13% e 19% das intenções de voto, no pior e no melhor cenário para ele. O instituto fez variações com e sem Lula na disputa mostrando que, em todas as testagens, o político fluminense mantém índices entre 15% e 17%. A pergunta é: qual a fidelidade dos eleitores que dizem votar em Bolsonaro com o candidato? Sim, é isso que está em jogo, pois o político só perderá votos de quem o apoia sem tanta certeza ou se mostra pouco comprometido.

E aqui temos o primeiro problema para os adversários de Bolsonaro. Analistas e marqueteiros entrevistados por esta coluna acreditam que pelo menos 70% dos que dizem votar hoje no deputado são fiéis e não mudarão de voto. Como as respostas foram empíricas, os nomes dos interlocutores serão mantidos em sigilo. Mas de qualquer maneira é possível avaliar o tamanho da encrenca. Se for considerado o atual percentual de Bolsonaro, ele teria, no pior cenário, caso perca eleitores, entre 9% e 12% das intenções de votos, o que o garantiria no mínimo um empate técnico com Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB), a depender da testagem. Isso dá ele mais de 14 milhões de votos.

Na luz

Como já foi tratado neste espaço, a esquerda e parte da imprensa sempre acreditaram que evitar Bolsonaro seria a melhor estratégia. O deputado, entretanto, cresceu independentemente do tratamento recebido, apoiando-se em parte no conservadorismo e no descrédito do eleitor com a política. O número de militares que serão candidato este ano nos estados é uma das provas de que a política no Brasil mudou, por mais que esse fenômeno — do justiceiro — já tenha sido observado com deputados vindos da polícia e do Ministério Público.

É bom lembrar que próprio ministro aposentado do Supremo Joaquim Barbosa representa tal anseio da população. Mas, no caso do ex-magistrado, pelo menos em relação aos analistas, há poucas desconfianças quanto ao potencial, caso queira entrar em campo de verdade.

O fato é que o eleitor de Bolsonaro ainda está longe de abandonar o candidato, o que pode o levar a um segundo turno, no qual o jogo zera e os candidatos têm o mesmo tempo nos programas eleitorais e nos debates. Não considerar Bolsonaro hoje é apostar que, na luz, ele se revelará um político raso, sem qualquer preparo para ser presidente da República.

A próxima questão é: por que não começar a tratar dessa fragilidade desde agora? Esquecer os números apresentados pelo deputado é brincar na beira do precipício.

Novo CCP

Entre quarta (09) e quinta-feira (10), ocorre o seminário do novo Código de Processo Penal, no auditório do térreo da OAB-DF, na 516 Norte. Entre os palestrantes, políticos, magistrados, ex-ministros, defensores públicos, promotores e advogados criminalistas.

Brasília, 10h31min

Vicente Nunes