Temer chegou a jogar a toalha em relação à reforma, ciente das dificuldades para aglutinar o apoio necessário a sua aprovação. Mas acabou retomando o projeto, convencido de que, sem o compromisso com um ajuste, mesmo que mínimo, no sistema previdenciário, estimularia uma onda de desconfiança entre os agentes econômicos, que poderia pôr em risco várias das conquistas do governo: inflação baixa, juros em queda e retomada da atividade. Pelo calendário do governo, a reforma passará na Câmara até a terceira semana de dezembro.
O que sobrou do projeto original encaminhado ao Congresso — idade mínima de 65 anos para homens e de 62 para as mulheres, regras de transição e equiparação dos regimes de servidores e trabalhadores da iniciativa privada — ajuda a dar um fôlego à Previdência, mas está longe de resolver os problemas. As propostas minguadas de reforma não acabam com os privilégios. Categorias como professores e militares continuam usufruindo de condições especiais para se aposentarem.
A “reforminha”, como dizem integrantes do Palácio do Planalto, reflete o desgaste do governo depois da delação do empresário Joesley Batista, que pegou em cheio o presidente. Até maio, era quase certo que deputados e senadores dariam os votos necessários para mudar a Previdência e garantir uma economia de R$ 760 bilhões em 10 anos aos cofres públicos. Porém, à medida que o desgaste de Temer aumentou, tendo que se livrar de duas denúncias na Câmara, a reforma minguou.
Tratoraço
Há quem acredite, mesmo dentro do governo, que a reforma não sairá, porque a infidelidade na base aliada é grande. Além disso, o país já está a menos de um ano das eleições, fato que estimula posturas populistas. Mesmo cientes da gravidade da situação fiscal, deputados e senadores preferem jogar para a plateia. “Vamos batalhar até o último instante para aprovarmos a reforma. Temos ciência, contudo, de que o tempo está jogando contra nós”, afirma um aliado de Temer.
Não por acaso, a orientação dentro do Planalto é de conduzir as discussões sobre a reforma numa espécie de “tratoraço”, usando um bom discurso, sem abrir mão, no entanto, de todas as armas que o governo dispõe para convencer aliados. Isso passa pela liberação de recursos do Orçamento e de distribuição de cargos na reforma ministerial, que já começou. Ainda falta um ano para que o futuro presidente tome posse. Neste período, será possível usar a máquina pública como instrumento de sedução. A caneta presidencial terá tinta até 31 de dezembro de 2018.
“Aqueles que estão contra a reforma, com discursos vazios, acabarão admitindo, ao longo do tempo, a importância dos ajustes na Previdência”, diz um ministro com bom trânsito no Planalto. Há, no entender dele, bons exemplos, como o do ex-presidente Lula, que atacou o quanto pôde o Plano Real, mas, anos depois, reconheceu a importância do controle da inflação como importante instrumento de combate à pobreza”, acrescenta.
O grande problema, na visão desse ministro, é que o país não aguenta mais esse tipo de postura “burra”, que só empurra a todos para o buraco. “Veja bem de quem são as vozes que gritam contra a reforma da Previdência. A maioria usufrui de privilégios. Deturpa os fatos, atiça as massas com o discurso de que está protegendo os trabalhadores, mas, na verdade, quer que tudo se mantenha do jeito que está para continuar se dando bem. Isso é hipocrisia descarada”, conclui.
Brasília, 06h47min