A confiança de consumidores e empresários está em queda. A crise política que atormenta o país turvou o horizonte e poucos acreditam em uma retomada mais forte da economia no segundo semestre do ano, como alardeia o governo. Sem consumo e sem investimentos, a perspectiva é de que o Produto Interno Bruto (PIB) caminhe, daqui por diante, muito mais próximo de 0% do que de 0,5%, como acredita o Banco Central. Com o país flertando novamente com a recessão — se é que saiu dela —, a inflação tende a desabar. É possível que encerre 2017 no limite mínimo de 3% previsto no sistema de metas.
Diante desse quadro dramático, não restará alternativa ao Banco Central se não a de manter o corte da taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual. Por mais que o discurso da instituição esteja carregado de cautela, levando parte do mercado a apostar em redução menor da Selic, de 0,75 ponto, o entendimento é de que a política de juros não será alterada. Não na reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom). Até lá, o BC terá tempo de sobra para se adaptar à realidade e mudar o posicionamento com o qual vem tentando guiar as expectativas do mercado.
A queda na confiança é tão sintomática que, se os índices que a medem caírem metade do que recuaram em 2015, o PIB de 2017 será negativo em ao menos 0,5%, reforçam economistas que acompanham esses indicadores. Ontem, Tanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI) quanto a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostraram que os empresários estão descrentes com o momento atual e com o futuro do país. Isso retém, sobretudo, os investimentos produtivos com os quais o governo contava para estimular a atividade, já que o poder de compra das famílias está esfacelado pelo desemprego recorde.
Histeria coletiva
Dentro do governo, a percepção é de que, nas próximas semanas, o BC passará a indicar queda de um ponto da Selic. Mas o fará de forma cautelosa para não abrir mão da credibilidade que construiu ao longo dos últimos meses na sua comunicação com os agentes econômicos. Foi justamente a desconfiança no que dizia a autoridade durante o governo de Dilma Rousseff que alimentou as expectativas de inflação e resultou no quase descontrole dos preços. Mesmo com a instituição elevando os juros, a inflação disparou, chegando a quase 11% em 2015. Os reajustes estavam disseminados.
Na opinião de técnicos da equipe econômica, a tendência é de se repetir, nos próximos meses, o que vem ocorrendo desde outubro do ano passado, ou seja, o BC superestimar as suas projeções de inflação. Isso quer dizer que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas, será sempre menor do que as estimativas da autoridade monetária. Os erros de projeções ficarão particularmente evidentes em junho e julho, quando a deflação deve surpreender, jogando o IPCA acumulado em 12 meses para menos de 3%.
“O BC sabe que os índices de inflação virão melhor do que os que constam em suas projeções, mas precisa manter o discurso de cautela. A instituição acredita que, agindo assim, evita uma euforia de que todos os problemas estão resolvidos”, diz um técnico do governo. Além disso, há o risco de saírem novas denúncias contra o presidente Michel Temer. “Neste clima de histeria coletiva que estamos vivendo, ter um BC com os pés no chão faz a diferença”, acrescenta. Ele, particularmente, acredita que a autoridade monetária acabará optando pelo corte de um ponto da Selic em julho, de 10,25% para 9,25% ao ano.
Copom dividido
Pelas projeções do BC, a inflação deste ano ficará em 3,8%, subindo para 4,5% em 2018 e se mantendo em 4,3% até o segundo trimestre de 2019. “Na minha opinião, são projeções muito conservadoras. Dado o ritmo da atividade, a inflação será bem menor ao longo desse período”, afirma Eduardo Velho, economista-chefe da gestora de recursos INVX. “Teremos, sim, um dólar mais alto por causa da crise política, mas a fragilidade da economia evitará qualquer repasse aos consumidores. A inflação entre os produtores está próxima de zero”, acrescenta.
Velho acredita que o BC chegará dividido na reunião de julho do Copom. Parte da diretoria do banco votará pelo corte de um ponto nos juros, parte, por redução de 0,75 ponto. Nas últimas reuniões do Comitê, prevaleceu a unanimidade. Para o economista, independentemente do resultado, o importante é que os juros continuarão caindo. E que ninguém descarte a possibilidade de a Selic encerrar 2017 entre 8% e 8,5%, situando-se no nível mais baixo desde o segundo semestre de 2013. E esse movimento estará ancorado em uma meta menor de inflação para 2019, de 4,25%, a ser definida no fim deste mês.