A fervura à qual foi submetida o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem um forte componente político. Ao se apresentar como possível candidato à Presidência da República em 2018 e fazer movimentos de aproximação com a bancada evangélica, criou uma forte comoção no PMDB do Senado, de onde vem partindo todo o tiroteio contra ele. Ainda que ninguém acredite na força de Meirelles para alavancar votos, o time comandado pelo senador Romero Jucá decidiu atuar para abatê-lo antes de alçar voo. E foi direto no maior ponto fraco do ministro: o ajuste fiscal.
Os movimentos de Jucá, com o auxílio da ala política do Palácio do Planalto, obrigaram Meirelles a assumir, ainda que nos bastidores, a possibilidade de o governo rever as metas fiscais deste ano e de 2018. Aumentar as projeções de deficits, que, se ressalte, são elevadíssimos, será como o ministro assumir que fracassou. Quando tomou posse no comando da Fazenda, Meirelles fez questão de frisar que os tempos de estripulias nas contas públicas haviam ficado para trás. A partir daquele momento, as finanças federais seriam tratadas com extrema responsabilidade.
Meirelles, inclusive, ressaltou, ao longo de meses, que o equilíbrio fiscal era importantíssimo para selar a confiança dos investidores e estimular a retomada do crescimento econômico. Agora, com as estimativas de rombo nas contas — de R$ 139 bilhões neste ano e de R$ 129 bilhões em 2018 — se mostrando insuficientes para acomodar todos os aumentos de gastos, a principal preocupação do ministro é construir um discurso que lhe garanta o mínimo de credibilidade. Não à toa, há dois dias, o Planalto vem dizendo, quando indagado sobre os ataques a Meirelles, que a responsabilidade sobre a meta fiscal é exclusiva do ministro da Fazenda. O que ele decidir será avalizado pelo presidente Michel Temer.
“O importante é deixar claro nesse debate que uma possível mudança nas metas fiscais deixou de ser um tabu dentro do governo. Aquele discurso de que as metas são intocáveis não existe mais”, afirma um dos auxiliares mais próximos do presidente Michel Temer. “O tema está na pauta, mas não é prioridade. Não, agora”, acrescenta.
Assunto menor
Os ataques contra Meirelles são assunto menor neste momento dentro do governo. O presidente Temer só tem cabeça para a votação, na Câmara dos Deputados, em 2 de agosto, do processo no qual é acusado pela Procuradoria-Geral da República de corrupção passiva. O peemedebista acredita que o resultado a seu favor abrirá um vácuo para que possa votar a reforma da Previdência Social sem qualquer nova concessão no projeto que foi encaminhado ao Congresso. “A ideia é ir para o tudo ou nada. O governo não tem mais nada a perder”, diz outro interlocutor do Planalto.
Ele ressalta que, nas negociações com deputados nas últimas semanas, Temer identificou que a proposta de mudança no sistema de aposentadoria pode ser casada com alterações nas metas fiscais. Os parlamentares se comprometeriam a dar votos favoráveis à reforma, desde que houvesse um alívio no ajuste das contas. Para o Planalto, os investidores entenderiam perfeitamente esse discurso, pois a perspectiva de um freio no deficit da Previdência significaria um controle no aumento da dívida pública, que, em junho, atingiu o nível mais elevado da história: 73,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Enfim, os movimentos estão todos a nosso favor. Temos pelo menos 280 votos para livrar o presidente da acusação feita pela PGR. Se isso não for uma demonstração de força, não sei o que é”, ressalta um ministro peemedebista. A perspectiva é de que, mesmo parlamentares que são contra Temer, mas a favor das reformas, engrossem a lista de apoio para liquidar a fatura da Previdência o mais rápido possível.