A candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa empolga o eleitor justamente por se distanciar do político tradicional, um homem que não parece disposto a fazer concessões. Relator do mensalão, o primeiro e histórico processo sobre a corrupção no alto escalão da República, Barbosa guarda as características do não-político, o que o leva a largar com o apoio de, pelo menos, 14 milhões de eleitores. Não é pouco, como bem sabem os pré-candidatos que patinam distantes dos 10% das intenções de votos. Caso esteja disposto, o ex-magistrado, segundo levantamentos, bateria o deputado Jair Bolsonaro no 2º turno.
“O problema de Barbosa está nas qualidades dele”, disse um dirigente do PSB, o partido escolhido pelo ex-presidente do Supremo, dias antes de encerrado o prazo de filiações. Tal frase une os dois primeiros parágrafos deste texto, pois, ao mesmo tempo em que isolam as características do político tradicional, podem atrapalhar Barbosa ao longo do jogo eleitoral, ainda no início da campanha. O PSB é um partido complexo, um grande saco de gatos, com gente oscilando entre a esquerda e a direita com desenvoltura e sem preocupações.
“O partido é um microcosmo da política brasileira, com todas as contradições, boas intenções e esperteza política”, confidenciou outro integrante da cúpula partidária. A chegada de Barbosa na legenda é um exemplo da falta de unidade. “Não tem fotos, não tem ato, não tem nada. Fizeram um anúncio posterior, quase envergonhado, que só foi publicado no outro dia da filiação”, afirmou um filiado ao PSB. É bom lembrar, apenas para relativizar, que, naquele dia, 7 de abril, acabava o prazo dado pelo juiz Sérgio Moro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se entregar à Polícia Federal. As atenções estavam voltadas para São Paulo e Curitiba.
Fake news
O primeiro desafio de Barbosa, assim, é domar o grupo contrário, que é relevante dentro do partido. Dele fazem parte o ex-governador do Espírito Santo Renato Casagrande e os governadores de Pernambuco, Paulo Câmara, e da Paraíba, Ricardo Coutinho. “A elite residente em Brasília é que quer Barbosa, por simples interesse eleitoreiro”, continuou o correligionário do partido. A tal “elite residente” tem consciência de eventuais idiossincrasias do ex-magistrado e acredita que Barbosa precisa fazer movimentos para se viabilizar.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, por exemplo, garante a interlocutores que Barbosa será tratado com deferência, mas não terá, facilmente, tudo o que quer. Em entrevista ao Correio, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, se mostrou um entusiasta da candidatura do ex-magistrado. Não deixou de pontuar que tudo depende justamente de Barbosa se mostrar disposto, afinal o cotidiano dele vai mudar radicalmente. No primeiro encontro com a cúpula do partido, na semana passada, o recém-filiado mostrou surpresa com a quantidade de jornalistas.
O grupo que apoia a candidatura de Barbosa acredita que, caso as próximas pesquisas apontem crescimento, o restante do partido vem no embalo. E aqui chegamos ao título deste artigo. Barbosa terá estômago para enfrentar a campanha suja nas redes? Especialistas garantem que as eleições de 2018 terão uma enxurrada de fake news. Até que ponto um cidadão pouco afeito à política tradicional consegue suportar tais ações de adversários, se mesmo candidatos experientes acusam os golpes? A boa notícia para os apoiadores do ex-ministro é que, assumindo a campanha e criando uma casca mais grossa, Barbosa tem todas as chances, dado o atual cenário político brasileiro.
Brasília, 11h21min