Ainda que os sinais de recuperação da economia sejam incipientes, duas das maiores multinacionais que atuam no país decidiram reforçar seus negócios por aqui. A norte-americana Oracle e a francesa Schneider Eletric acreditam que, mesmo com todas as incertezas políticas, o Brasil tem um grande potencial para gerar lucros. Não dá, no entender das empresas, para desdenhar de um mercado com mais de 200 milhões de habitantes ávidos por tecnologia e inovação.
“O país foi e continua sendo um bom negócio”, diz Rodrigo Galvão, presidente da Oracle. Tanto, ressalta ele, que a companhia está prestes a inaugurar o segundo data center no Brasil, o vigésimo no mundo. Cleber Morais, presidente da Schneider, ressalta que poucos países no mundo tem tanto potencial para investimentos em infraestrutura como o Brasil. Estima-se que a demanda atual chegue a R$ 1,5 trilhão. E é nesse mercado que a empresa está de olho.
Os executivos acreditam que, já neste segundo semestre, a economia dará mostras mais fortes da retomada. A percepção é de que as empresas decidiram não ficar mais dependentes de uma solução para a crise política. Estão focando toda a atenção em seus negócios para que, quando a retomada se consolidar, estejam prontas para tirar proveito. “Não há dúvidas de que vivemos a pior crise da história. Mas o Brasil é um ótimo país para investir”, reforça Morais.
Consumo das famílias
Apesar de toda a movimentação do empresariado, ninguém acredita que, pelo menos neste ano, os investimentos produtivos sejam as alavancas para o crescimento. Na verdade, para surpresa de muitos, inclusive do governo, a atividade está saindo do atoleiro puxada pelo consumo das famílias, que ganhou fôlego com a expressiva queda da inflação — o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses está em 2,71% —, e pela liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Isso não quer dizer que o governo deva retomar o modelo de crescimento baseado no consumo das famílias, que imperou nas administrações petistas e resultou numa onda de superendividamento. Na avaliação dos presidentes da Oracle e da Schneider, o Brasil precisa criar todas as condições para que as empresas se sintam mais confortáveis para retirar das gavetas os investimentos que vão resultar em mais empregos e renda. Isso passa pela melhora da educação e de regras mais amigáveis ao capital.
Para Cleber Morais, houve um avanço importante: a aprovação da reforma trabalhista pelo Congresso. Ele acredita que, com uma lei mais flexível, o país ganhará mais competitividade para lidar com a revolução que está ocorrendo no mercado de trabalho. “Uma legislação mais moderna é importante para companhias globalizadas, que precisam lidar com complexidades locais para definir os custos operacionais”, afirma.
Sem ruptura
Com a retomada da economia se desenhando, destaca o presidente da francesa Schneider, o Brasil necessita pular a crise de valores na qual mergulhou. Ele diz que os escândalos de corrupção que atormentam a todos estão provocando um processo de depuração e, certamente, teremos um país melhor. Não é só. Toda a crise, que ainda parece estar longe de acabar, explicitou a força das instituições. Nem de longe se cogitou a possibilidade de uma ruptura.
Essa segurança institucional faz com que as eleições de 2018, totalmente imprevisíveis, não tirem o sono do empresariado. “A democracia está consolidada”, diz Morais. É isso que faz com que o Brasil seja importante para qualquer multinacional. “A crise se tornou uma grande oportunidade”, assinala Galvão, da Oracle. Na visão dos executivos, o pior ficou para trás. Agora, a hora é de pavimentar o caminho do crescimento. Se o governo fizer a parte dele — manter a inflação sob controle, baixar juros, melhorar a educação e priorizar a infraestrutura —, tudo ficará mais fácil.
Brasília, 06h02min