Com a vitória no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente Michel Temer trata, agora, de juntar o que sobrou de seu governo para garantir a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência Social. Ele acredita que, mesmo com a perda de apoio em sua base, conseguirá fazer andar projetos que empresários e investidores consideram importantes para a retomada do crescimento. Na avaliação de Temer, se a economia mantiver o fôlego, ele terá, por volta de setembro, um discurso mais forte para mostrar que tem condições de conduzir o país até o fim de 2018.
Os últimos quatro dias foram de muita tensão e expectativa no Palácio do Planalto. Mas tão logo os primeiros três votos contra a cassação da chapa Dilma-Temer foram anunciados, o presidente e seus assessores mais próximos vibraram contra o que classificam de “campanha sórdida” contra o governo. Trata-se de uma visão totalmente distorcida dos fatos, mas Temer e companhia não estão nem aí se a decisão do TSE foi legítima ou não. O que importa, para eles, é que o governo ganhou uma boa sobrevida e tem que correr contra o tempo para reunificar a base no Congresso.
A determinação do Planalto é para que os ministros saiam a campo e convençam as suas bases a aprovar, até o fim do mês, a reforma trabalhista. Também terão que dar impulso às mudanças no sistema previdenciário, que enfrentam resistências enormes entre os partidos governistas. A ação de convencimento envolverá empresários e investidores. Temer vai estreitar os contatos com os donos do dinheiro para tentar induzi-los a tirarem das gavetas projetos que podem mover o Produto Interno Bruto (PIB) e reduzir o desemprego que afeta 14 milhões de pessoas.
De olho no BC
O governo acredita que, mesmo com o crescimento ainda muito lento, tem um grande trunfo nas mãos: a inflação em queda. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses terminados em maio atingiu 3,60%, o menor nível em 10 anos. Ou seja, o custo de vida está 0,9 ponto percentual abaixo do centro da meta, de 4,5%, perseguida pelo Banco Central. A meta do governo é colar esse feito à imagem do governo. A pregação será a de que o alívio no orçamento das famílias só foi possível graças à política econômica responsável.
O Planalto espera, inclusive, que o BC se engaje a essa empreitada e reveja a postura conservadora que adotou na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A instituição disse, em seus comunicados oficiais, que, diante da incerteza política, será mais cautelosa nos cortes da Selic. Isso significará reduzir o ritmo de redução dos juros de um ponto percentual para 0,75 ponto. O governo acredita que, com o TSE garantindo o mandato de Temer, o BC poderá mudar o discurso e manter o pé no acelerador.
“Os juros precisam cair mais rápido para passarmos confiança aos empresários e aos investidores. Não há porque o BC se manter tão conservador. Do ponto de vista da política econômica, tudo está caminhando bem. Não cabe ao Banco Central fazer alarmismos”, afirma um dos assessores mais próximos de Temer. Ele garante que não haverá nenhum tipo de pressão sobre a diretoria comandada por Ilan Goldfajn, “até porque o BC tem capacidade técnica para perceber que a inflação deixou de ser um problema e fechará este ano abaixo do centro da meta”.
Agito das massas
Do lado de empresários e investidores, a visão é de que ainda é cedo para comemoração. De nada adiantará o TSE dar uma vitória a Temer se, dias depois, o PSDB, que tem quatro ministros no governo, decidir sair da base aliada. A pressão pelo rompimento é grande, sobretudo da ala mais jovem do partido. O presidente da República acredita que ainda pode conter a rebelião. Não por acaso, passou os últimos dias em contato constante com as lideranças tucanas. Temer é uma raposa política, mas tem muitas fragilidades. É um dos alvos preferenciais das investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. E ainda será alvo de novas denúncias.
“Temos noção que várias outras denúncias virão contra o governo. Mas temos musculatura para sobreviver. Depois das últimas três semanas, quando se acreditou que Temer estava acabado, estamos preparados para tudo”, ressalta um ministro palaciano. “Agora, temos que convencer a nossa base aliada de que estamos vivos e prontos para levar o governo até o fim de 2018. É no Congresso que precisamos concentrar todos os esforços”, acrescenta. Ele sabe que a empreitada custará caro. Mas, com a caneta nas mãos, Temer não está preocupado com a fatura. Entregará o que lhe for pedido em troca de apoio.
Os próximos dias serão cruciais para saber até que ponto o governo se fortaleceu. Sem apoio popular, o Congresso terá que dar uma resposta muito rápida às demandas do Palácio do Planalto. A guerra pela sobrevivência está longe de ser vencida. A grande sorte de Temer é que a ruas estão muito calmas. “Sem o agito das massas, fica mais fácil atrair apoio político. Estamos confiantes. Com a decisão do TSE, viramos uma página importante. É vida nova”, afirma o mesmo ministro. Vamos ver o que o tempo dirá. O horizonte continua turbulento. Todo cuidado é pouco.
Brasília, 06h42min