Coluna no Correio: Hora da verdade

Compartilhe

O pedido de prisão de quatro dos principais caciques do PMDB — Eduardo Cunha, Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá — deixou o governo de Michel Temer a um passo da derrocada. Se o presidente interino não conseguir aprovar, rapidamente, medidas econômicas de peso para sinalizar aos investidores que mantém o controle sobre a economia, estará fadado ao fracasso e o pior que pode acontecer ao país, a volta de Dilma Rousseff ao poder será mais provável do que nunca.

A tensão provocada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, é grande. Metade dos ministérios de Temer foi indicada por Renan, Cunha, Sarney e Jucá. Com eles na linha de tiro do Supremo Tribunal Federal (STF), o PMDB se enfraquece e deixa o presidente interino mais dependente do Centrão, agrupamento de partidos que hoje dão sustentação ao governo. O problema é que a união dessas legendas é vista pelo Palácio do Planalto como uma gelatina que pode se dissolver a qualquer momento. Se o apoio ruir, nada de importante será aprovado no Congresso Nacional.

Não por acaso, os investidores acenderam o sinal de alerta. Institucionalmente, os partidos do Centrão são fracos. São pequenos feudos, extremamente conservadores, que se reúnem para tentar criar algo grande. Eles não têm projetos para o país, estão mais preocupados em obter cargos e vantagens. Não será surpresa se, por conta do apetite desses partidos e da situação frágil em que se encontra, o peemedebista der mais um recuo e liberar nomeações para estatais e fundos de pensão mesmo sem a aprovação, no Congresso, da lei que restringe as indicações para essas empresas e entidades de previdência complementar.

Temer ainda não completou um mês de governo e corre o risco de ser obrigado a entregar todos os anéis e alguns dedos para manter as mãos. Ficará, no entanto, numa situação muito parecida com a de Dilma pouco antes de ela ser apeada do poder pela abertura do processo de impeachment pelo Senado. A única forma de o presidente interino se diferenciar da petista é aprovando projetos importantes, como o que limita o aumento dos gastos à inflação do ano anterior.

Não é só. Terá que contar com a solidariedade do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para convencer os agentes econômicos de que o compromisso com o ajuste fiscal está de pé. Tanto que o próprio Temer e Meirelles se ocuparam de procurar o STF para avisar que o governo vetará o reajuste dos salários dos ministros da Corte, como forma de evitar que o aumento do teto do funcionalismo provoque um efeito cascata sobre os estados, que estão quebrados.

Pior da política

Apesar de toda a apreensão dentro do governo, a avaliação sobre os pedidos de prisão feitos por Janot é de que o STF não levará adiante o assunto. No máximo, mandará Eduardo Cunha para trás das grades — o que, se ressalte, fará tarde. O Supremo tem a exata noção do desejo popular de ver os peemedebistas na cadeia ou usando tornozeleiras, como seria o caso de Sarney, devido à idade avançada. Mas tende a não ceder às pressões das ruas para não abrir mais precedentes. A prisão de Delcídio do Amaral em pleno mandato de senador e o afastamento de Cunha do mandato e da presidência da Câmara são considerados fatos extremos, que, na visão dos magistrados, não podem se tornar corriqueiros.

Mas em se tratando de Lava-Jato, tudo pode acontecer. A operação que desvendou o espantoso processo de corrupção na Petrobras ganhou força própria. Não há mais como detê-la, por mais que queiram os políticos. Todos, por sinal, que tentaram ou pensaram em obstruí-la estão presos ou prestes a sê-lo. Isso torna o cenário imprevisível para o governo, que, por necessidade de apoio, teve que se aliar ao que há de pior na política — nesse grupo, só não está o PT, que comandou o desvio de dinheiro público e teve a maior derrota até agora: a perda da Presidência da República.

Para os investidores, se quiser sobreviver, Temer terá que encontrar sozinho uma saída que resulte na arrumação da economia e na aprovação definitiva do impeachment de Dilma, o que exigirá a maioria no Senado. Desde que ele chegou ao Palácio do Planalto, todos os índices de expectativa melhoraram. Foi um voto de confiança dos agentes econômicos. Acreditou-se que com um novo governo, com responsabilidade fiscal e compromisso com a retomada do crescimento, o país entraria de novo nos trilhos. Essa visão, no entanto, está se revertendo rapidamente, tamanha a fragilidade que o peemedebista vem demonstrando, com recuos, vacilos e escolhas erradas de auxiliares.

Os próximos dias serão dramáticos para Temer. Ele terá que provar que está descolado da Lava-Jato e que, a despeito de a cúpula do PMDB estar ruindo, tem condições de conduzir o país pelo melhor caminho. A meta é anunciar, o mais rapidamente possível, um pacote de medidas de curto prazo para reanimar os ânimos do empresariado e das famílias. As medidas, porém, terão que ser factíveis, com resultados rápidos. Se o tempo já corria contra o presidente interino, agora os ponteiros aceleraram o passo. A hora da verdade de Temer chegou.

Brasília, 07ho5min

Vicente Nunes