Coluna no Correio: A escolha pelo silêncio

Compartilhe

PAULO DE TARSO LYRA

Uma semana após ter retornado de um giro pelo Nordeste, na caravana onde se deixou fotografar a granel junto aos seus, militantes partidários e população da região que mais cresceu economicamente ao longo dos oito anos em que ele esteve no poder, Lula voltou à realidade nua e crua de se sentar no banco dos investigados pela Justiça. O depoimento, menor que o anterior diante de Sérgio Moro – duas horas antes as mais de cinco de maio – mostrou um petista impaciente, muitas vezes partindo para o enfrentamento explícito. Como me disse um simpatizante, Lula acendeu o “eu não ligo mais” (entendedores saberão que o termo usado não foi esse), pois tem a exata noção de que o jogo para ele acabou.

Mas o presidente eterno do PT não pode assumir isso, por uma questão pessoal e outra política. A pessoal é que a pré-candidatura a presidente o blinda do risco de uma decretação de prisão imediata. Uma coisa é colocar na cadeia um ex-presidente, por mais popular que seja, que está sendo investigado e, tudo indica, será condenado em segunda instância. Outra, é fazer isso com o líder nas pesquisas de intenção de voto em uma disputa completamente indefinida. É o mote perfeito para o bordão de interdição da democracia.

A questão política é que, sem Lula no debate, os votos não migram para o ungido petista. Vão para o deputado Jair Bolsonaro. E por que vão para ele? Porque parte do eleitorado lulista é composto por evangélicos e pessoas mais conservadoras das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Votam em Lula, não no PT. Sem o ex-presidente na cédula, tendem a se inclinar em direção ao nome que mais representa o ideal conservador com o qual comungam.

Por isso, Lula precisa trabalhar seu sucessor, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sem dizer que é ele o escolhido. Haddad enfrenta resistências dentro do próprio PT paulista, que o acusa de não ser “orgânico” e de ter governado a cidade de São Paulo sem ouvir os dirigentes e a militância.

O mesmo partido que, agora, se pergunta o que acontecerá caso Lula venha a ser preso. Como ele não fará delação caso isso aconteça, são grandes as chances de ele ficar um tempo detido. A dúvida é se, em um cenário com a economia em frangalhos e a necessidade diária de garantir a sobrevivência, quem vai se dispor a ficar na porta de um presídio, por um prazo indefinido, gritando que a democracia foi aviltada?

Brasília, 15h01min

Vicente Nunes