Coluna no Correio: A equipe econômica cai para a segunda divisão

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A equipe econômica que chegou ao governo de Michel Temer com o selo triplo A, ou seja, avaliação máxima, está próxima de cair para a segunda divisão. A enorme enrascada fiscal na qual o país se meteu indica que o prometido ajuste nas contas públicas — bandeira alardeada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles — não aconteceu e, pior, o Palácio do Planalto já cogita mudar as metas deste ano e de 2018, de rombos de R$ 139 bilhões e de R$ 129 bilhões, respectivamente. É a repetição do filme de horror que se viu no fim da administração da petista Dilma Rousseff.

Não há nenhum exagero nessa comparação. Tanto com Joaquim Levy quanto com Nelson Barbosa à frente da Fazenda, a saída era aumentar a previsão de deficit nas contas quando a arrecadação se mostrava insuficiente e as receitas extraordinárias não se confirmavam. Nas últimas duas semanas, Meirelles e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, começaram a ensaiar o roteiro, com algumas adaptações. Anunciaram um polêmico aumento de impostos sobre combustíveis para arrecadar R$ 10,4 bilhões e contingenciaram R$ 5,9 bilhões do Orçamento, recursos que poderão ser liberados nos próximos dias com base em expectativa de verbas extras com grandes chances de não se concretizarem.

A necessidade de mudar as metas fiscais é tamanha que o Palácio do Planalto já adequou o discurso. Se, até bem pouco tempo, negava peremptoriamente tal possibilidade, agora, passou a difundir o discurso de que, se, em algum momento, o tema entrar em debate, será conduzido por Meirelles. Ele, segundo assessores de Temer, será o piloto. Qualquer discussão, qualquer avaliação sobre alteração no deficit das contas públicas, terá que passar pelo ministro da Fazenda. Esse é um acordo de governo, a forma encontrada para dizer que o fiador da política econômica está caindo na real.

Maquiagem

Antes, porém, de fazer qualquer anúncio, a equipe econômica tentará pavimentar junto aos investidores respaldo para a mudança das metas, especialmente a de 2018, que todos consideram mais difícil de ser atingida. O governo não quer nenhum movimento atípico nos mercados, sobretudo neste momento de extrema fragilidade de Temer. Há, entre os técnicos, quem diga que os donos do dinheiro já estão preparados para qualquer alteração nos deficits previstos, dadas às condições dramáticas das contas públicas e os elevados riscos de os serviços prestados à população entrarem em colapso.

“Para dizer a verdade, mesmo com todo o nosso discurso de que jamais mudaríamos, o mercado nunca acreditou”, ressalta um técnico. O importante, acredita ele, é que os analistas sabem que, apesar de todas as dificuldades, a atual equipe econômica está compromissada em dar uma arrumação definitiva nas contas do governo. Tanto que trabalhou pesadamente e conseguiu aprovar, no Congresso, um teto para o crescimento das despesas federais nos próximos 20 anos. “A atual equipe econômica está longe de maquiar dados. Há um esforço enorme de tratar a questão fiscal de forma transparente. Por isso, sempre teve a confiança e o respaldo dos investidores”, frisa.

É importante ressaltar, contudo, que houve um excesso de confiança por parte do time comandado por Meirelles — e do mercado em relação ao grupo. Assim que os integrantes da equipe assumiram, acreditaram que apenas seus currículos estrelados seriam suficientes para mudar os rumos do país e, rapidamente, retirar a economia da recessão. Erraram feio. A atividade continua no limbo, a arrecadação se mantém no chão e o governo, mesmo com o discurso fiscalista do ministro da Fazenda, sancionou, sem nenhum pudor, aumento de gastos, sobretudo por meio de reajustes aos servidores.

Resta saber até quando a reputação da equipe econômica conseguirá segurar o tranco da gravidade das contas públicas. A do governo como um todo já se esfacelou há muito tempo. É aguardar para ver.

Vicente Nunes