Apesar de todo o alarde feito pelo governo, é preciso ver com cautela os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O saldo positivo de 9.821 vagas em junho foi um alento em meio ao atoleiro no qual estamos mergulhados, mas está longe de significar uma retomada do mercado de trabalho. Não fosse a agricultura, que contratou 36.827 pessoas a mais do que demitiu, o resultado ficaria no vermelho. A indústria fechou 8.963 postos, a construção civil cortou 8.963 vagas e o setor de serviços encerrou 7.273 contratos profissionais. Ou seja, as demissões continuam disseminadas.
O estrago feito na economia do país pelo governo de Dilma Rousseff foi profundo demais. Somente entre 2015 e 2016, período em que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 7,2%, mais de 3 milhões de postos de trabalho foram fechados. Recuperar essas vagas com carteira assinada levará anos. Além de a economia estar rateando, há uma crise política profunda, que está longe de dar trégua. É impossível hoje pensar na possibilidade de as empresas investirem no aumento da produção sem saber o que será do país daqui a dois ou três meses. Vivemos tempos de muitas incertezas.
Haja paciência
Há quem acredite que a economia está começando a se descolar da política. Mas é muito difícil cravar isso. Na melhor das hipóteses, o país parou de piorar. Não podemos esquecer que temos um presidente da República totalmente fragilizado. É possível que Michel Temer seja substituído por Rodrigo Maia entre agosto e setembro. Não é só. As eleições de 2018 são uma grande incógnita. O risco de caminharmos para um extremo, seja de direita, seja de esquerda, é enorme. O país pode, inclusive, eleger um presidente cujo mandato será cassado antes de ele tomar posse.
É compreensível que as pessoas estejam ansiosas por fatos positivos diante de todo o descalabro que se viu nos últimos anos. Contudo, não se pode criar uma falsa sensação de otimismo com base em números que não se sustentam depois de uma análise mais profunda. Vivemos um longo período de ilusão. Chegamos ao disparate de nos sentirmos ricos. O que estamos vendo nesse momento são espasmos de recuperação econômica. Ainda teremos que percorrer um longo e tortuoso caminho para que possamos, enfim, dizer que a crise acabou. Haja paciência!