Coluna no Correio: Economia no azul

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O país saiu da recessão, mas o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, que será divulgado no fim do mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda mostrará a economia em contração. A equipe econômica gostaria de dar a boa notícia logo, mas reconhece que o ritmo da atividade entre abril e junho foi muito contaminado pela crise política que culminou com o afastamento de Dilma Rousseff do poder. Não se espera, porém, um tombo expressivo.

Pelos dados acumulados de julho em diante, é possível que o PIB do terceiro trimestre seja ligeiramente positivo. Mas, por precaução, para evitar a acusação de excesso de otimismo, o governo só admite que a economia voltará ao azul nos últimos três meses do ano. Um graduado técnico da equipe chefiada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, diz que o momento não é de euforia, mas de realismo. “Quanto mais conservadores formos neste momento, melhor”, afirma.

A grande virada da economia, no entender dos técnicos do governo, se dará em setembro, quando o comércio começará a fazer as encomendas à indústria para as festas de fim de ano. Dali em diante, espera-se que o nível de atividade mostre o PIB ganhando tração para fechar 2017 com crescimento entre 1,5% e 2%. “Não há dúvidas de que o otimismo voltou, o que dá um gás à economia. Mas, com a aprovação definitiva do impeachment de Dilma, o salto será maior”, acrescenta um assessor do Palácio do Planalto. Para ele, ainda tem muita gente parada, à espera de um governo efetivo.

Na avaliação da Fazenda, para que os bons ventos continuem soprando, o impeachment de Dilma terá que ser acompanhado de um forte apoio do Congresso ao ajuste fiscal. Na conversa que teve nos últimos dias com líderes de partidos da base aliada, o presidente interino, Michel Temer, pediu total empenho à aprovação da agenda econômica. Ele recebeu a garantia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que projetos prioritários não serão prejudicados pelas eleições municipais. “O Legislativo é soberano para decidir sobre o ajuste fiscal. Mas quanto maior for a demora, pior para o país”, acrescenta o auxiliar de Meirelles. “Não se trata de pressão, mas de entender que o relógio está jogando contra nós”, emenda.

Vida real

Para Manuel Enriquez García, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, de fato, há sinais positivos na economia indicando que o fundo de poço chegou e que se está saindo dele. Isso pode ser medido, sobretudo, pelos indicadores de confiança. “Precisamos ver, contudo, se, na economia real, a recessão se foi por completo”, frisa. Ele afirma que é possível ver um movimento maior nos supermercados, nos shoppings center e nos restaurantes, mas não necessariamente o fluxo maior de pessoas está se traduzindo em aumento das vendas.

“Não podemos esquecer que as famílias ainda convivem com um desemprego muito elevado. E desemprego alto não combina com aumento do consumo”, diz García. No entender dele, os próximos dados de vendas de bens duráveis, como carros, serão determinantes para explicitar qual será o ritmo da retomada. “Por enquanto, estamos juntando os cacos do que sobrou da economia, o que não é pouca coisa diante do tamanho do tombo que vimos no ano passado (queda de 3,8% do PIB) e que teremos neste ano (3,2%)” assinala.

O presidente da Ordem dos Economistas acredita que até o resultado das Olimpíadas do Rio será importante para dar impulso ao país. “Agora, é preciso que o Congresso entenda a urgência do momento. Se deputados e senadores continuarem alimentando as incertezas, adiando as discussões sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento de gastos à inflação do ano anterior, certamente teremos problemas mais à frente. E não serão poucos”, avisa. O ideal, diz ele, é que os legisladores não cedam às pressões das corporações que só estão interessadas em manter privilégios.

Crédito e juros

O governo já identificou que, com a confiança voltando, os bancos começaram a destravar o crédito, ponto importante para incrementar o consumo. Melhor: as taxas de juros do mercado futuro, que servem de parâmetro para a formação do custo do dinheiro, estão em queda. A leitura é a de que, mais à frente, já se verá redução dos encargos cobrados pelo sistema financeiro, antes mesmo de o Banco Central dar início aos cortes da taxa básica (Selic).

“Crédito mais barato tem um efeito multiplicador importantíssimo. Permite às famílias encaixarem as prestações no orçamento, faz com que as empresas troquem débitos mais caros por mais baratos e viabiliza o programa de concessões e privatização que estamos preparando”, ressalta um assessor de Temer. Na visão dele, todos estão à espera de uma grande notícia na economia, que virá quando o PIB ficar no azul. “Temos clara noção de que o ritmo da atividade parou de cair. E que, em alguns setores, voltou a subir. Mas queremos ver o conjunto da economia navegando em céu de brigadeiro.”

Para que isso aconteça, Temer não poderá descuidar um minuto do Congresso. Por maior que seja a garantia dos líderes aliados de que a base política está enquadrada, tudo pode acontecer. Já vimos, na semana passada, atropelos para a votação da Desvinculação de Receitas da União (DRU). E há um movimento entre os parlamentares de sérios questionamentos à PEC dos gastos tanto no que se refere às despesas com saúde e educação, quanto ao prazo de vigência do teto, de 20 anos. O interino, portanto, terá que preparar as armas para a batalha que está bem longe do fim.

Brasília, 05h18min

Vicente Nunes