Coluna no Correio: Contagem regressiva para a prisão de Lula

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O ex-presidente Lula recebeu a sentença do juiz Sérgio Moro, que o condenou a nove anos e seis meses de prisão, com a “serenidade de um inocente”, como relatou Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT. A descrição está bem ao gosto dos fregueses, sobretudo daqueles que saíram às ruas para pedir a não condenação do líder petista. Marketing à parte, o certo é que a sentença de Moro carimbou em Lula o selo da corrupção. Mesmo ainda não sendo preso por “prudência” e para evitar “certos traumas”, conforme destacou Moro em sua sentença, Lula ficou menor. Líder isolado nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, ele carregará, agora, no currículo, o título de primeiro comandante do país condenado pela Justiça comum. Não é pouca coisa.

Lula, como sempre, posará de vítima. E tentará usar o tempo a seu favor, uma vez que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), ao qual caberá ratificar ou não a decisão de Moro, deve demorar cerca de um ano para se posicionar caso mantidos os trâmites normais. Com isso, a decisão sairia no auge das eleições de 2018. Aliados do petista acreditam que isso poderá jogar a favor dele, principalmente se estiver liderando a corrida ao Planalto. A leitura dentro do PT é de que uma condenação do TRF-4, com a prisão de Lula num momento decisivo das eleições, levaria o Brasil a uma convulsão social. O PT aposta no “medo” da Justiça para livrar seu líder máximo da prisão. Ao mesmo tempo, está preparado para atear fogo no país.

Os adversários de Lula, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá, acreditam que o tempo político poderá levar o TRF-4 a antecipar sua decisão. Tal hipótese entrou com tudo no radar dos investidores, que refutam qualquer possibilidade de o ex-presidente retornar ao Planalto. Lula já foi o queridinho do mercado financeiro. Ao assumir o comando do país em 2003, não só manteve a política econômica executada por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, como aprofundou os pilares da estabilidade — o sistema de metas de inflação, o câmbio flutuante e o ajuste fiscal. Esse compromisso havia sido firmado na Carta ao Povo Brasileiro, divulgada durante a campanha.

Eleições de 2018

Agora, porém, Lula é visto como um crítico feroz do ajuste fiscal, que passa pela aprovação da reforma da Previdência Social. Para os donos do dinheiro, tirá-lo do caminho com a condenação pelo TRF-4 é fundamental. Lula, na avaliação dos investidores, é o maior risco dentro dos cenários traçados pós-eleição de 2018. Torná-lo inelegível por meio da Lei da Ficha Limpa é muito mais importante para o mercado do que uma eventual substituição do presidente Michel Temer pelo deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Temer e Maia são alinhados com o pensamento dos donos do dinheiro.

Daqui por diante, diz um importante gestor de fundos de investimentos, as notícias relativas a Lula deverão ter mais impacto no mercado do que os desdobramentos políticos de Brasília. O petista é alvo de vários processos. “Mesmo sem querer, o juiz Sérgio Moro antecipou as eleições de 2018. Já vínhamos falando, internamente, sobre os riscos de ter o PT de volta ao poder depois de todo o estrago que a presidente Dilma Rousseff fez no país. Mas eram mais suposições. A sentença de Moro, no entanto, colocou o assunto na ordem do dia”, afirma o executivo.

Não custa lembrar, segundo um integrante do Ministério Público, que o TRF-4 costuma ratificar mais de 90% das decisões tomadas por Moro. É esse histórico que torna provável a possibilidade de Lula ir para atrás das grades. As próximas semanas e meses, portanto, serão de grande expectativa. Os índices da bolsa de valores e os preços do dólar serão o termômetro do destino do ex-presidente. Quanto mais a bolsa subir e a moeda norte-americana cair, maior será a confiança dos agentes financeiros de que Lula estará fora do páreo das eleições de 2018. É esperar para ver.

Vicente Nunes