ANTONIO TEMÓTEO
A profunda crise econômica impôs ao comércio dois anos seguidos de retração, fechamento de lojas e queda do número de postos de trabalho. Mas o processo de corte de juros e a queda da inflação podem levar o setor a reduzir o ritmo de prejuízos acumulados. O primeiro indicador de que os varejistas chegaram ao fundo do poço é a desaceleração do ritmo de estabelecimentos que deixaram de funcionar. No primeiro trimestre ,9,9 mil pontos de venda encerraram as atividades, número 73,3% menor do que o registrado no mesmo período de 2016.
Entre janeiro e março do ano passado, 37,1 mil lojas foram fechadas. A última vez que o setor abriu mais pontos de vendas do que encerrou a atividade foi em 2014. Naquele ano, 2 mil estabelecimentos passaram a funcionar a mais do que os que cerraram as portas. Os dados fazem parte de levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “O varejo passa por uma transição. Há números positivos e negativos se intercalando, enquanto que no ano passado, por exemplo, estava tudo no vermelho”, afirmou Fabio Bentes, economista da entidade.
Para 2017, a expectativa de Bentes é de que o resultado entre o fechamento e a abertura de lojas seja igual a zero. Além disso, o economista estima que até 3 mil vagas de emprego sejam geradas pelo comércio. No ano passado, por exemplo, 177 mil trabalhadores do setor varejista foram dispensados. A CNC estima que as vendas ao longo do ano registraram tímida expansão de 1,2%, impulsionadas, sobretudo, pelo crescimento de até 3% das vendas no Natal, principal data para o segmento. No ano passado, nesse período, a retração chegou a 4,9%.
O economista avalia que, com a relativa estabilidade do câmbio, as importações de produtos crescerão e favorecerão as vendas de Natal. “A receita de bolo é bem mais favorável no segundo semestre deste ano”, disse Bentes. Para ele, a queda da inflação, a estabilidade cambial, a retomada dos empregos e o corte dos juros contribuirão para esse processo.
Moderação
O ritmo de recuperação da atividade econômica como um todo será determinado pela “âncora política”, avalia o ex-diretor do Banco Central (BC) e chefe da divisão econômica da CNC, Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ele ressalta que a indicação de que o próximo presidente da República, seja quem for, manterá o compromisso com as reformas a partir de 2019 garantirá estabilidade para que o país volte a crescer. Gomes comenta que a abundância de liquidez internacional e a queda no preço das commodities favoreceram o processo de desinflação da economia e mantêm o dólar estável.
O economista ressalta que mesmo com a piora nas estimativas para o crescimento econômico, que estavam em 1% no início do ano e agora estão perto de zero, o ambiente é deflacionário. “O crescimento em 2018 está contratado com ou sem reforma da Previdência e não existem ameaças para a inflação que levariam o BC a reduzir o processo de queda de juros”, diz. Nas contas dele, a taxa básica de juros (Selic) deve encerrar o ano em 8% e chegar a 7% em 2018.
As únicas fontes de pressão para esse processo, ressalta Gomes, seriam uma alta de juros nos Estados Unidos ou um processo de forte desaceleração da economia chinesa. Entretanto, nenhuma das possibilidades deve se materializar. Diante desse cenário, o economista-chefe da CNC estima que a economia pode crescer 2% no próximo ano e a inflação se manterá abaixo do teto da meta, de 4,5%, em 3,8%. “Precisamos de mais crédito para o comércio. Sem isso, o setor morre. Por isso é importante a queda de juros”, afirma.