ANTONIO TEMÓTEO
As reformas podem elevar o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil para 3,5%, conforme estudo do Itaú Unibanco. Os economistas Artur Manoel Passos e Alexandre Gomes da Cunha avaliaram que um ajuste fiscal que aumente a poupança doméstica e estabilize a dívida pública, combinado com a implementação de medidas microeconômicas, é essencial para que as projeções se materializem. Sem o reequilíbrio das contas públicas e a aprovação de propostas para aperfeiçoar a legislação brasileira, destacam os analistas, o PIB potencial ficaria mais próximo de 1,5%.
Nas contas de Passos e Cunha, as diversas crises econômicas dos últimos 55 anos implicaram alta relevante da inflação, o não pagamento das obrigações do governo e a redução da renda per capita. Segundo eles, três fatores explicam o contido crescimento do Brasil. O primeiro é a baixa taxa de poupança doméstica, que limita os investimentos e diminui o ritmo de acúmulo de capital e de ganhos de produtividade por meio do uso de novas tecnologias.
Além disso, as seguidas crises macroeconômicas reduziram o nível da renda do país em pelo menos 25%. Por último, a produtividade acumulada no período ficou abaixo do observado por países emergentes diante de diversos entraves regulatórios, tributários e nas relações trabalhistas. Os economistas do Itaú Unibanco avaliam que o ajuste fiscal teria potencial para elevar o nível de poupança doméstica, aumentando a capacidade do país de investir, além de garantir a sustentabilidade da dívida pública, evitando crises fiscais no futuro.
Do ponto de vista microeconômico, além da reforma trabalhista, eles destacam que há espaço para abertura da economia brasileira, por meio do fortalecimento das parcerias comerciais, para a reforma tributária e para o investimento em educação. “Por outro lado, na ausência de avanços das reformas macroeconômicas e microeconômicas, o crescimento potencial ficaria ao redor de 1,5%. Esse crescimento baixo dificultaria a estabilização da dívida pública, aumentando a probabilidade de desarranjos e degradação macroeconômica, o que poderia trazer o crescimento para valores ainda mais baixos”, alertam.
Apesar dos avanços que todas essas mudanças provocariam, um crescimento de 3,5% levaria o país a caminhar a passos lentos para igualar os níveis de renda per capita dos países avançados. “Considerando um crescimento populacional anual de 0,7% e excluindo efeitos de taxa de câmbio, estimamos que o Brasil levaria 66 anos para alcançar o nível atual da renda per capita dos Estados Unidos.”
Passos lentos
Enquanto o país engatinha para sair do atoleiro e voltar a crescer de maneira sustentável, o mercado tem se animado com a sucessão de imbróglios que tiram o presidente Michel Temer do foco principal da crise. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou ontem em alta de 0,03%, aos 72.151 pontos e o dólar registrou queda de 0,57%, a quinta consecutiva, cotado a R$ 3,119. Mas o dado mais simbólico está ligado ao risco-país. O indicador, que leva em conta os Credit Default Swaps (CDS) brasileiros de cinco anos, uma espécie de seguro contra calotes, chegou aos 189 pontos, o menor nível da gestão Temer.
Um banqueiro, que preferiu anonimato, destacou que as novas revelações dos áudios de executivos da J&F, que colocam em xeque a credibilidade de magistrados e procuradores, dão munição para o chefe do Executivo. “Do ponto de vista político, o presidente da República se fortalece e já há no mercado quem acredite que a reforma da Previdência possa ser aprovada”, comenta. Conforme ele, a sensação de melhora do ambiente também leva em conta dados divulgados recentemente.
Além do crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, os analistas se surpreenderam com a alta de 0,8% da indústria, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado superou as expectativas dos economistas, que previam, em média, um aumento de 0,4%. No acumulado do ano, o índice teve alta de 0,8%. Em comparação com julho de 2016, registrou elevação de 2,5%, também acima das estimativas, que previam expansão de 1,8%.
A semana que prometia fortes emoções para Temer, que chega ao Brasil após cumprir agenda na China, parece que terminará com notícias favoráveis ao chefe do Executivo. Para complementar a onda favorável ao peemedebista, o Banco Central (BC) reduzirá hoje a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, para 8,25% ao ano. Será o menor nível desde maio de 2013. “Ainda é impossível debater as reformas necessárias para que o país atinja um PIB potencial de 3,5%, mas, para quem estava próximo do precipício, a situação mudou drasticamente. Brasília não é para amadores. São mudanças bruscas a cada semana”, ironizou um executivo de um banco paulistano.
Brasília, 06h27min