Coluna no Correio: Aliados de Temer já apresentam fatura de novas metas

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A pergunta que todos estão se fazendo na Esplanada dos Ministérios é quanto custará a aprovação do pacote fiscal anunciado pelo governo. As medidas — que incluem mudanças nas metas de deficit nas contas públicas deste ano e de 2018 e cortes de salários e de benefícios de servidores — nem bem chegaram ao Congresso e a gritaria está enorme. Mesmo integrantes da base aliada do presidente Michel Temer se dizem contrários às propostas. É a senha de que o Palácio do Planalto terá que abrir os cofres e vagas na administração federal para aplacar os ânimos. Ontem, assessores presidenciais admitiram que pelo menos 40 deputados serão contemplados com vagas para apadrinhados nos segundo e terceiro escalões do governo.

Os favores que serão exigidos por deputados e senadores têm muito a ver com a fragilidade de Temer. Como o presidente está ameaçado por novas denúncias da Procuradoria-Geral da República, terá que ceder além dos limites para manter o cargo. Ainda assim, não há garantia de vitória. A cada dia que passa, o apoio ao governo fica mais caro, sobretudo porque a base aliada está minguando, distanciando-se da supremacia que o peemedebista dizia ter no Congresso. Agora, cada voto vale ouro.

O Palácio do Planalto, porém, já se preparou para a batalha. O argumento principal para convencer deputados e senadores de que o aumento dos deficits públicos deste ano e de 2018 para R$ 159 bilhões é vital será o de que o governo abrirá uma folga no Orçamento para mais gastos, inclusive para emendas parlamentares. A previsão é de que sejam desbloqueados entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão extra para atender projetos listados pelos aliados em suas bases eleitorais. Somente para derrubar a denúncia de corrupção passiva na Câmara, Temer liberou quase R$ 6 bilhões em emendas. Essa fatura acabou inflando o rombo das contas públicas.

Condescendência

Mesmo entre integrantes da equipe econômica, que deveriam estar exalando otimismo, o reconhecimento é de que o governo está numa situação muito desconfortável para cantar vitória. Se conseguir aprovar as mudanças nas metas fiscais, já será uma vitória e tanto. Os técnicos ressaltam que o corte de salários e de benefícios de servidores exigirá muita habilidade política do Planalto, devido à força que as corporações têm dentro do Congresso. Foram essas mesmas corporações que criaram uma grande campanha contra a reforma da Previdência, levando Temer a uma série de recuos.

É importante ressaltar que, por medo de enfrentar uma paralisia da máquina pública no início de seu mandato, o presidente acabou sancionando uma série de reajustes salariais a várias carreiras da elite do funcionalismo. É justamente uma parte dos aumentos que o governo, agora, quer adiar de 2018 para 2019. A mobilização contra essa proposta começou antes mesmo de a equipe econômica oficializar o congelamento dos salários. Manifestações e greves estão sendo articuladas. A tendência é de a Esplanada ser tomada por protestos. Certamente, o Congresso não ficará alheio a isso.

O ideal, dizem técnicos, é que o governo não recue em nenhum ponto do pacote. Se abrir precedentes, enterrará rapidamente o corte de despesas que está sendo dado como satisfação à sociedade para justificar rombos maiores nas contas públicas. Pelo histórico de Temer, porém, tudo é possível. Basta um grupo falar mais alto para que ele volte atrás. Se isso ocorrer, que ninguém se espante se parte da equipe econômica, sobretudo a da Fazenda, pedir para sair. O descontentamento com as recentes concessões feitas pelo presidente incomodaram muito os técnicos.

“Somos profissionais e temos a intenção de levar nosso trabalho até o fim. Mas isso não implica aceitar a excessiva condescendência do Planalto. Foi justamente a postura leniente em vários momentos que agravou o quadro fiscal”, afirma um técnico. Temer, portanto, deve ficar esperto. Se a equipe econômica rachar, só restará a ruína do governo.

Vicente Nunes