COLAPSO POLÍTICO

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O Brasil está à beira de um colapso político. Essa percepção, que se espalhou como um rastilho de pólvora pelo mercado financeiro, está atormentando os agentes econômicos. Por mais que a presidente Dilma Rousseff tente passar confiança e mostrar que tudo está sob controle, a sensação é de que o governo chegou ao precipício. O caminho de volta ficou longe demais.

 
Empresários e investidores tentaram, nos últimos dias, apegar-se a qualquer sinal positivo emitido pelo governo. Praticamente imploraram para que Dilma voltasse a assumir compromissos claros com o ajuste fiscal e reforçasse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, sabe-se, está mais isolado do que nunca. Mas não há nada que o Palácio do Planalto diga ou faça que consiga reverter a desconfiança.
 
A grave crise na qual o Brasil está mergulhado começou na economia com a alta da inflação permitida pelo Banco Central e as pedaladas fiscais comandadas por Guido Mantega. Mas foi ganhando contornos políticos que, agora, se mostram imprevisíveis. Olhando para a frente, não se sabe se Dilma terminará o mandato. Muitos se perguntam o que acontecerá com o país caso a petista deixar o poder.
 
A fragilidade da presidente é tamanha que ela já não consegue tomar as medidas necessárias para dar um rumo à economia e reverter as turbulências que estão levando o Brasil para o buraco. O governo não tem força para decidir sobre corte de gastos. Não consegue obter apoio dos poucos aliados que restam para o aumento de impostos. Mesmo que o BC fosse obrigado a elevar os juros, não conseguiria.
 
Essa falta de opções deixa o país extremamente vulnerável. Basta qualquer espirro no exterior — da China, da Grécia ou dos Estados Unidos, por exemplo — para que a economia entre em parafuso. Essa falta de barreiras só agrava a recessão e alonga o sofrimento das empresas e das famílias. Não é só. Faz com que os investidores percam a referência quanto aos preços do dólar, dos juros e da bolsa de valores. Trata-se de um quadro raro, atípico, que não se vê desde 2002, véspera de o PT chegar ao poder.
 
Fora de controle 

Diante de tudo o que se viu nesses primeiros nove meses do segundo mandado de Dilma, pode-se esperar o pior. A presidente destruiu todas as pontes da credibilidade. No início do ano, deu-se um voto de confiança a ela, baseado na promessa de que Levy teria total autonomia para fazer o ajuste que a economia tanto precisa para voltar a crescer. O que se viu, porém, foi uma feroz disputa de poder, tendo, de um lado, o ministro da Fazenda, e, de outro, os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A crise, que deveria regredir, saiu do controle.

 
Mesmo no entorno de Dilma, a percepção é de que o governo está em ruínas. Será quase impossível juntar os cacos. Para um importante integrante do Planalto, quando o vice Michel Temer diz, publicamente, que não há como a presidente se manter no poder por mais três anos com a popularidade no chão, é um sinal claro de que se pode esperar um desfecho ruim, a começar pelo desembarque do PMDB da base política do governo — se é que o partido ainda continua nela.
 
Os próximos dias serão de tensão. Nem mesmo o feriado do Sete de Setembro será suficiente para reverter o clima de fim de festa que se abateu sobre a Esplanada dos Ministérios. O nervosismo, por sinal, pode aumentar, a depender do que as ruas ecoarem. O Planalto já mapeou que manifestações contra o governo devem se alastrar pelo país. Há o risco de os protestos serem maiores do que os de 16 de agosto, quando o governo comemorou o fato de o número de pessoas ter ficado aquém do esperado.
 
O maior temor do Planalto é de que, a partir de agora, as classes D e E ocupem as ruas. São elas as que mais estão sofrendo com a inflação alta e o desemprego. O entendimento é de que, com esse grupo de eleitores engrossando os protestos, não haverá mais argumentos para o governo, pois a rede de proteção social, da qual Dilma tanto se orgulha de ter mantido em tempos de crise, já não fará mais a menor diferença.
 
À espera do milagre 

Entre os que asseguram a permanência de Dilma no poder, independentemente da popularidade próxima de zero, há o argumento de que José Sarney conseguiu cumprir todo o mandato, mesmo não tendo apoio da população e do Congresso. Não se pode esquecer, porém, de que Sarney começou o governo sob a comoção de substituir o primeiro presidente da redemocratização do país. Além disso, lançou um plano, o Cruzado, que deu esperanças ao povo para o combate à hiperinflação.

 
No caso de Dilma, não há nada que a favoreça. Muito pelo contrário. A economia vai de mal a pior, com o desemprego chegando e estraçalhando o orçamento das famílias. Na política, até o partido da chefe do Executivo, o PT, quer vê-la fora do Planalto. Será, portanto, quase um milagre se a petista completar a travessia até o fim de 2018.
 
Enfim, um alívio
 
» O governo deve ter pelo menos uma boa notícia na próxima semana. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto ficou em 0,21%, prevê o Santander.
Brasília, 00h01min