CNI reforça apoio ao acordo de livre comércio UE-Mercosul

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ROSANA HESSEL

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação das Empresas Europeias (BusinessEurope), divulgaram, nesta segunda-feira (12/6), nota conjunta reafirmando o apoio ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul — firmado em 2019 mas que ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos dois blocos–, a fim de “alavancar as relações bilaterais a um novo patamar”.

O comunicado conjunto aproveita a visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil. Ela tem encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e participa de conferência sobre o futuro da relação entre o Brasil e a União Europeia (UE), promovida pela Delegação da União Europeia no Brasil e pela CNI, hoje à tarde, no SESI Lab.

A conferência tem como objetivo ser um espaço de discussão sobre o futuro da parceria entre a UE e o Brasil, “diante da nova realidade geopolítica do mundo, como forma de identificar os principais desafios, as prioridades e as oportunidades do cenário atual, principalmente no que diz respeito à transição para uma economia digital e verde”, de acordo com a CNI. Os temas serão pauta em um painel de discussão composto por especialistas e representantes do setor privado e da entidade patronal brasileira.

No comunicado conjunto, a CNI e a BusinessEurope demonstraram preocupação com o encolhimento da participação da indústria brasileira nas exportações para a União Europeia, que passou de 68% para quase 49% entre 2003 e 2022.

“Estamos confiantes de que os compromissos equilibrados acordados em 2019 permitem que ambas as partes promovam os fluxos bilaterais de comércio e investimentos, diversifiquem suas cadeias de suprimentos, sustentem empregos bem remunerados em ambas as partes, ao mesmo tempo em que efetivamente protejam o meio ambiente e atendam aos mais altos padrões de desenvolvimento sustentável. Ademais, o acordo fortalecerá ainda mais os laços entre dois dos maiores blocos democráticos do mundo”, destacou o documento.

De acordo com a nota conjunta, as duas entidades sugeriu que os líderes dos dois blocos aproveitem “a janela de oportunidade aberta ao longo de 2023 para progredirem significativamente em direção à ratificação do Acordo durante a presidência do Conselho Europeu pela Suécia e Espanha, e a presidência pro-tempore do Brasil no Mercosul”.

“O aprofundamento da atual Parceria Estratégica UE-Brasil e a celebração do Acordo Mercosul-UE devem seguir entre as principais prioridades políticas das partes, que buscam intensificar sua cooperação bilateral comercial, econômica e política. Nesse sentido, em relação às conversas atuais sobre um instrumento adicional ao acordo, encorajamos os negociadores a viabilizarem a flexibilidade apropriada a fim de chegarem a um acordo equilibrado e tempestivo que beneficie ambas as sociedades”, acrescentou o comunicado.

Veja a íntegra da declaração conjunta da CNI e da BusinessEurope

DECLARAÇÃO CONJUNTA DA CNI E DA BUSINESSEUROPE SOBRE AS RELAÇÕES COMERCIAIS, ECONÔMICAS E POLÍTICAS BILATERAIS ENTRE O BRASIL E A UNIÃO EUROPEIA

Na ocasião da visita da Presidente da Comissão da União Europeia (UE), Ursula von der Leyen, a Brasília, em 12 de junho de 2023, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação das Empresas Europeias (BusinessEurope) celebram essa interação de alto nível e aproveitam a oportunidade para manifestar seu firme apoio ao Acordo de Associação Mercosul-União  Europeia.

Ao estabelecer uma das maiores áreas de livre comércio do mundo que cobriria quase um quarto da economia global e 31% das exportações mundiais de bens, o acordo proporcionará benefícios concretos para ambos os blocos, inclusive no sentido de se atingir a neutralidade climática.

A UE e o Brasil têm tradicionalmente sido parceiros comerciais importantes. O comércio bilateral atingiu um valor recorde de quase € 90,5 bilhões no ano passado. Os investimentos também têm tido fortes laços, com a UE investindo mais de € 277 bilhões no Brasil e recebendo cerca de € 132 bilhões em investimentos diretos brasileiros, tornando o país o maior investidor latino-americano na UE.

Embora as relações bilaterais de comércio e investimento sejam sólidas, elas também estão muito abaixo do seu potencial. Preocupa-nos que o relacionamento atual – e potencialmente próspero – esteja cada vez mais exposto a grandes desafios globais, como aumentos significativos nos preços de energias, gargalos nas cadeias de suprimentos e atritos geopolíticos que levam o mundo à beira de uma nova onda de protecionismo prejudicial às economias.

Estamos preocupados que essas circunstâncias tenham exacerbado o lamentável declínio da relevância da relação comercial UE-Brasil em favor de outros grandes concorrentes – situação na qual o Acordo Mercosul-UE ajudaria a reavivar a relação comercial bilateral. A União Europeia, que já foi o principal parceiro comercial do Brasil, agora responde por apenas 16% das importações globais do país, ocupando apenas a terceira posição como principal fornecedor do Brasil. Por exemplo, as exportações de máquinas e equipamentos da UE representaram 21% de todas as vendas do bloco ao Brasil, em 2003, mas caíram para menos de 16%, 20 anos depois.

Por sua vez, o Brasil foi superado por países como Índia e Coreia do Sul no ranking dos principais parceiros comerciais extrabloco da UE. Além disso, entre 2003 e 2022, o papel da indústria manufatureira nas exportações brasileiras para a UE caiu de 68% para quase 49% de todo o valor vendido para a União Europeia.

Diante dessas preocupantes tendências, o Acordo de Associação Mercosul-União Europeia torna-se mais importante do que nunca como uma resposta estratégica, abrangente e sustentada. Estamos confiantes de que os compromissos equilibrados acordados em 2019 permitem que ambas as partes promovam os fluxos bilaterais de comércio e investimentos, diversifiquem suas cadeias de suprimentos, sustentem empregos bem remunerados em ambas as partes, ao mesmo tempo em que efetivamente protegem o meio ambiente e atendem aos mais altos padrões de desenvolvimento sustentável. Ademais, o acordo fortalecerá ainda mais os laços entre dois dos maiores blocos democráticos do mundo.

Vicente Nunes