Clima no Ministério da Economia mistura sensações de alívio e de apreensão

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ROSANA HESSEL

Após o resultado das urnas de domingo, o clima no Ministério da Economia mistura sensações de alívio e apreensão, nesta segunda-feira (31/10). No Palácio do Planalto, o clima de fim de festa não é diferente, segundo fontes do governo. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) reluta em reconhecer a derrota nas urnas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sem sequer agradecer os 58 milhões de votos que recebeu, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem compromissos em sua agenda e nem apareceu no gabinete onde que costuma despachar diariamente, no Bloco P da Esplanada dos Ministérios. Ninguém sabe por onde ele anda em pleno Dia das Bruxas.

A assessoria da pasta, por sua vez, não tem informações do paradeiro do ministro. Enquanto isso, os secretários especiais que trabalham no mesmo prédio da sede da pasta seguiram a rotina normalmente. Na reta final da campanha, foram de Guedes as declarações polêmicas que podem ter tirado voto de Bolsonaro, assim como o tiroteio do “amigo”do presidente, ex-deputado Roberto Jefferson, no Rio de Janeiro, e do abuso de poder com perseguição armada nas ruas de um bairro chique de São Paulo protagonizada pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).

O Posto Ipiranga de Bolsonaro admitiu que o governo estuda, desde o início do mandato, a desvinculação do salário mínimo à inflação e não convenceu com o argumento de que essa mudança poderia implicar em uma correção até maior do que a variação do custo de vida. E, para piorar, ao comparar o atual governo com o do PT, jogou por terra a bandeira de que não há corrupção no governo Bolsonaro. “Eu, se fosse o Bolsonaro, diria: tudo o que o Lula fizer, eu faço mais. Por quê? Porque nós roubamos menos”, disse o ministro, na quinta-feira (27) em uma entrevista ao portal Suno. Depois, o ministro tentou consertar: “Nós não roubamos”.

O estrago foi feito e Guedes serviu de bandeja argumentos para a campanha de Lula usar na propaganda eleitoral que os desmentidos oficiais e acusações contra “petistas infiltrados”. Nem mesmo a promessa de Bolsonaro de aumentar o salário mínimo dos R$ 1,2 mil de R$ 1,4 mil em 2023, acima dos R$ 1,3 mil previstos na peça orçamentária, não ajudaram a reverter a liderança que o petista tinha nas urnas.

No fim da tarde de hoje, a assessoria da Economia informou que, amanhã (1º/11), Guedes continua sem compromissos na agenda.

Transição

Com o resultado das urnas conhecido, uma lista crescente de líderes internacionais reconhecendo a vitória do PT, até o momento, não se sabe se haverá uma transição e se ela será tranquila. Na Esplanada, ainda não há orientação das chefias sobre a condução do processo, que é previsto por lei.

No mercado, a expectativa de que a escolha do coordenador da transição poderá ser o presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, na coordenação tem deixando operadores do mercado apreensivos. A torcida é que o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin seja escolhido para coordenar a transição. Contudo, essa escolha ainda não foi confirmada por assessores da campanha de Lula. Outro nome que vem dando arrepios nos agentes financeiros é o do candidato derrotado ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) no Ministério da Fazenda, que será recriado.

Ex-integrantes de governos petistas fazem o alerta e esperam de Lula uma atitude de estadista e concilie os partidos e personagens cujo apoio foi decisivo na vitória. Segundo uma fonte, Lula tem um quebra-cabeça grande para montar. Colocar Alckmin na transição seria muito bom. Se for o Mercadante, “será um péssimo sinal, porque ele foi um desastre na Casa Civil”. Lula, na avaliação dessa fonte que está em uma gestora internacional, deveria escolher alguém do partido para o Ministério do Planejamento e deixar a Fazenda com “uma boa surpresa”.  “Espero que depois da Dilma Rousseff, eles tenham aprendido alguma coisa”, acrescentou.

Vicente Nunes