RODOLFO COSTA
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) está completamente parada. Projetos estão comprometidos, convênios correndo o risco de suspensão e pessoas sem saber seus destinos. A guerra por poder foi brutal.
Muito desse clima de tensão tem a ver com os últimos dias do embaixador Mário Vilalva na presidência da agência foram conturbados. Funcionários da empresa ligada ao Ministério das Relações Exteriores dizem ter sido hostilizados pelo diplomata, que ocupava a diretoria executiva.
Por conta disso, os colaboradores fizeram uma denúncia coletiva por assédio moral na ouvidoria interna. As acusações foram encaminhadas às diretorias de Negócio e de Gestão Corporativa da empresa e também ao Ministério Público do Trabalho do Trabalho (MPT) e ao próprio Itamaraty.
O sucessor de Vilalva ainda não foi decidido. Com carta branca para mexer na autarquia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, conversou nesta sexta-feira (12/4) com o presidente Jair Bolsonaro. Os dois conversaram sobre a Apex.
Desconforto
A denúncia coletiva atinge Vilalva, o chefe de gabinete, Roberto Escoto, e Claudenir Pereira, controlador interno da Controladoria-Geral da União (CGU) ainda não cedido à Apex. Todos são acusados de constrangerem a equipe e gerente dos recursos humanos, além dos demais gerentes e empregados ligados às diretorias de Negócios e Gestão Corporativa.
Os colaboradores do RH denunciam que foram assediados para a contratação de Escoto e Pereira. As críticas e detalhamentos contra Escoto, aos quais o Blog teve acesso, são as mais contundentes. Dizem que ele utilizava indevidamente a patente de militar para intimidar os trabalhadores a respeitarem suas ordens sem nem ainda estar contratado formalmente. A agência o contratou em 3 de abril como gerente da chefia de gabinete da presidência, mas ele já dava expediente havia cerca de duas semanas.
No gabinete de Escoto, os funcionários se sentiam constrangidos pela presença de armas e símbolos de guerra sobre a mesa. Ele dizia que estava lá para “botar ordem na casa”. Vilalva, por sua vez, ameaçaria pessoas concursadas de demissão. O clima, criticam, era de “terror e pânico”.
As acusações envolvendo Pereira, contratado para gerenciar a ouvidoria, apontam que ele teria dado “carteiradas” em empregados do RH para ser contratado como comissionado, sem ainda ter sido formalmente cedido à Apex, o que representaria infração à Lei 8.112.
Outro lado
Procurados, Escoto e Pereira comunicam que não se manifestarão por não terem tido acesso a uma cópia da denúncia. Vilalva também não se manifestou. A Apex-Brasil informa que, em observância ao Programa de Integridade, está avaliando a denúncia recebida a fim de identificar a presença dos critérios de autoria e materialidade necessários ao processamento de apuração interna.
“Desta forma, como ainda não há análise conclusiva sobre essa admissibilidade, a Agência se reserva o direito de não se manifestar sobre os fatos narrados pela reportagem, para não adiantar posicionamento sumário que poderá atrapalhar o andamento das investigações que, porventura, sejam adotadas ou, mesmo, incorrer no risco de emissão de juízo de valor sumário, sem a observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.”
Brasília, 21h02min