CHOQUE NO BOLSO

Compartilhe

O tormento da inflação está longe de dar o alívio que, desesperadamente, o governo espera. Na próxima sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentará mais uma prova de que a carestia continua latente, e fazendo estrago no orçamento das famílias, a despeito de todo o arrocho monetário promovido pelo Banco Central. Pelas coletas de preços feitas pelo mercado financeiro, o IPCA-15, prévia do índice oficial, poderá atingir 0,85% em junho, taxa que comprovará nova aceleração dos reajustes.

Na avaliação dos economistas Maurício Molan, do Banco Santander, e André Perfeito, da Gradual Investimentos, o IPCA-15 será pressionado pelos alimentos, cujos preços deveriam estar caindo nesta época do ano, e pelas tarifas públicas, sobretudo as de água e de esgoto. Se confirmado o 0,85% de alta, a inflação acumulada em 12 meses baterá em 8,65%. Os números assustam, sobretudo, pela velocidade da piora. Há duas semanas, o consenso entre os especialistas era de que a prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria entre 0,45% e 0,50%.

Para Ivo Chermont, economista-chefe da Itaim Asset, diante desse quadro inflacionário, no qual sete em cada 10 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE estão registrando aumentos, não restará alternativa ao Banco Central senão a de levar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano. “Essa é a minha projeção principal”, diz. “Serão mais duas altas de 0,50 ponto percentual e uma de 0,25%”, acrescenta. “Na melhor das hipóteses, a Selic pode ficar em 14,75%, o que, mesmo assim, representará aumento de 1 ponto em relação à taxa atual, de 13,75%.”

Chermont chama a atenção para outra pressão que o BC terá que lidar, a do dólar em alta, caso, na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, dê sinais mais claros de que começará a elevar a taxa de juros na maior economia do planeta. Apesar de a autoridade monetária norte-americana vir indicando que será muito criteriosa ao decidir pelo arrocho, os indicadores econômicos apontam para recuperação consistente da atividade. “Esse será mais um combustível para o BC brasileiro, que vem reforçando sua posição mais linha-dura”, assinala.

Dentro do governo, o clima é de apreensão, uma vez que a inflação persistentemente elevada destrói qualquer possibilidade de a economia se recuperar ainda no fim deste ano, como vem pregando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. O risco, com a carestia rodando próxima de 9%, é de o nível de atividade despencar.

A confiança dos consumidores já está no chão diante da disparada do desemprego, que caminha para 10%, segundo a Pnad Contínua. Muitas famílias cortaram em até 40% os gastos mensais nos supermercados e nas lojas para acomodar a alta das tarifas públicas no orçamento doméstico. Nesse contexto, não há como a indústria ampliar a produção. As empresas, por sinal, estão sofrendo com o encalhe de estoques. Fábricas estão sendo fechadas e as férias coletivas se multiplicam.

De nada adianta o governo insistir em discursos positivos, incentivar o consumo, pois quem vive da renda do trabalho sabe que as coisas estão ruins e vão piorar muito. O que mais irrita os consumidores é que eles sabem exatamente de quem é a culpa: da presidente Dilma Rousseff, que, no primeiro mandato, optou por experimentalismos na economia que levaram ao desastre. Arrumar a casa custará muito caro e levará tempo. A fatura, como sempre, será paga pelo lado mais fraco, a população.

União de forças

» Entidades empresariais de 20 países da América Latina, mais Espanha e Portugal, fundaram, ontem, em Madri, o Conselho de Empresários Ibero-americanos (Ceib). O colegiado representará o setor produtivo nas cúpulas ibero-americanas de chefes de Estado, que ocorrem a cada dois anos, e coordenará posições nas relações com a União Europeia.

Ambiente de negócios

» O Ceib também trabalhará para identificar barreiras ao comércio e desenvolverá propostas para aprimorar o ambiente de negócios nos países. “É preciso agregar valor aos fatores de competitividade comuns aos empresários ibero-americanos, para que possamos contribuir melhor com o desenvolvimento econômico e social dos nossos países”, diz Alexandre Furlan, vice-presidente da Organização Internacional de Empregadores (OIE) para a América Latina.

Baixo carbono

» O coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, entrega, na próxima terça-feira, o documento Propostas para revisão do Plano Agricultura de Baixo Carbono para a ministra a Agricultura, Kátia Abreu. Elaborado pelo Observatório ABC, o texto propõe a implantação de sistema de monitoramento das emissões de carbono e a capacitação de técnicos e produtores rurais.

Brasília sobre duas rodas

» As Casas Bahia registraram aumento de 20% nas vendas de bicicletas no 1º trimestre de 2015 ante o mesmo período do ano passado, ao apostar em modelos com design mais arrojado e melhor desempenho. Brasília superou a média nacional, com alta de 31%.

Brasília, 10h10min

Vicente Nunes