China desacelera em ritmo mais forte. Isso é ruim para o mundo, imagina para o Brasil

Compartilhe

ROSANA HESSEL

A economia da China está desacelerando em ritmo mais forte do que esperado pelo mercado. Conforme dados divulgados nesta sexta-feira (15/7), o Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do planeta cresceu apenas 0,4% no trimestre encerrado em junho deste ano. Foi o pior desempenho da história do país asiático considerando a série de dados, iniciada em 1992, e supera apenas a queda de 6,9% no primeiro trimestre de 2020, durante o início da pandemia da covid-19.

O resultado do PIB chinês entre abril e junho ficou bem abaixo da alta de 4,8% registrada no primeiro trimestre, devido aos recentes bloqueios em várias cidades, devido a novos casos de covid-19 no gigante asiático. O dado mais fraco no trimestre também corroborou com o aumento das preocupações dos agentes financeiros sobre os riscos crescentes de desaceleração da economia global, pois ficou abaixo da expectativa de alta de 1% estimada por analistas.  Na comparação com o mesmo período de 2021, a queda do PIB foi de 2,6%, também acima das estimativas do mercado, que esperava recuo de 1,5%.

Conforme dados das agências de notícias dos Estados Unidos, os principais bancos de investimento cortaram repetidamente suas previsões para o PIB da China deste ano e a avaliação é de que a economia chinesa está “no fundo do poço”. A mediana das estimativas estava em  3,4% no fim de junho. A previsão oficial do governo chinês para o PIB, anunciada em março, estava em 5,5%.

Analistas reconhecem que a surpresa negativa do resultado do PIB do país asiático aumenta as chances de uma recessão global em um cenário de inflação crescente em vários países. Não à toa, os mercados ficaram meio atordoados, sem uma direção clara hoje. Na Ásia as bolsas de valores fecharam o dia bem fracas, com Tóquio subindo 0,54% e Shangai recuando 1,64%. Na Europa, as bolsas registravam alta após a derrocada da véspera, puxada pelo rescaldo da surpresa dos dados de inflação elevada nos Estados Unidos, com Londres e Frankfurt, na Alemanha, subindo 0,89% e 1,63%, respectivamente.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) se mostrou bastante volátil no pregão de hoje. O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, abriu em queda e testou nova mínima, de 95.267 pontos. Mas, às 13h27 subia 0,25%, a 96.367 pontos, com os frigoríficos BRF e Minerva, com quedas em torno de 3%, liderando as perdas do dia.  Já o dólar apresentava desvalorização de 0,50%, às 13h30, e era cotado a R$ 5,39.

Julio Hegedus, economista-chefe da Mirae Asset, fez um alerta sobre os riscos de desaceleração mais forte da economia da China, especialmente no Brasil. O país asiático é o maior importador de produtos brasileiros, principalmente commodities, que têm ajudando no resultado positivo do PIB de 2021 e do primeiro trimestre deste ano. “Para o Brasil, uma desaceleração forte da economia chinesa é muito ruim, dado o nosso fluxo de comércio para lá, em especial, soja e minério de ferro. Afeta, em especial, os segmentos siderúrgicos e os grandes produtores de minério, como a Vale”, destacou. Ele lembrou também que frigoríficos nacionais exportam muita carne para a China, mas também estão sofrendo com as recentes restrições dos parceiros comerciais.

Analistas também não descartam os riscos de uma recessão global em 2023 e alertam que o Brasil não deverá escapar ileso. As projeções do mercado para o crescimento do PIB brasileiro do ano que vem estão bem distantes da estimativa de alta de 2,5% prevista pelo Ministério da Economia. A mediana das previsões do mercado está em 0,5%, mas analistas não descartam uma taxa mais perto de zero, na melhor das hipóteses.

Vicente Nunes