Desde que chegou ao Palácio do Planalto, o presidente interino, Michel Temer, usou boa parte de seus discursos públicos para explicitar os erros do governo de Dilma Rousseff. Hoje, por sinal, disse que sua antecessora levava as empresas à falência. O mesmo discurso crítico foi adotado por Henrique Meirelles, que, quando foi nomeado para o Ministério da Fazenda, afirmou que o Brasil vivia a pior crise de sua história. E atribuía o quadro caótico ao estrago que Dilma fez nas contas públicas.
Pois quase dois meses depois do afastamento da petista, Temer e Meirelles andam repetindo tudo de ruim que ela fez. Ampliaram os gastos públicos, sancionaram aumento para os servidores públicos, abriram mão de R$ 50 bilhões em dívidas dos estados em busca de apoio político, transformaram a proposta de reforma da Previdência em uma farsa. Ou seja, Temer e Meirelles continuam executando a política fiscal irresponsável que empurrou o país para o buraco, tirando o emprego de 11,4 milhões de trabalhadores.
A desculpa de Temer e de Meirelles é de que tudo está sendo arrumado e que a gastança atual já está computada na previsão de deficit de R$ 170,5 bilhões neste ano e de mais de R$ 100 bilhões em 2017. Ora, se realmente quisessem corrigir todos os estragos cometidos por Dilma, o presidente interino e o ministro da Fazenda deveriam ter cortado gastos, feito de tudo para que os rombos deste ano e dos próximos fossem menores. Mas, não. Preferiram o caminho mais fácil. Para obterem apoio político, acomodaram uma série de demandas, empurrando a conta para os contribuintes. As bondades do governo Temer chegam a R$ 125 bilhões, como mostra hoje o Estado de S. Paulo.
Como bem lembrou a brilhante economista Monica de Bolle, é preciso ser coerente. “Quando as bondades eram feitas por Dilma, o achincalhe era geral entre os economistas. Quando vêm de Temer, é porque é agenda dupla, demandas do presidencialismo de coalizão”, diz. O mercado está passando a mão nas cabeças de Temer e de Meirelles somente porque não gosta de Dilma, porque não quer a petista de volta ao poder. Mas é uma grande incoerência, inaceitável num país sério.
Se continuarem nessa toada, repetindo os erros de Dilma, mas com um discurso bonito, que soa bem aos ouvidos dos investidores, Temer e Meirelles vão cometer o mesmo desatino. E quebrar o Brasil de vez. De discursos bonitos e falsas promessas, o país está cheio. O que precisamos é de coerência. E, certamente, isso está faltando, e muito, no atual governo.
É um pena que estejamos sendo vítimas de mais um engodo.
Brasília, 14h00min