Campos Neto ameniza o tom em relação aos riscos fiscais

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ROSANA HESSEL

A fim de tentar tranquilizar mais o mercado financeiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, procurou alinhar o discurso com o do ministro da Economia, Paulo Guedes, e passou a minimizar os riscos fiscais, na ‘contramão dos últimos alertas feito em palestra com executivos de grandes bancos, na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), quando o colegiado decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica da economia (Selic) de 4,25% para 5,25%.

“Os números, de fato, estão melhores do que a perspectiva do que o mercado tem tomado como verdade”, disse Campos Neto, nesta terça-feira (24/08), Campos Neto, palestra virtual em evento organizado pela XP Investimentos, enquanto o governo está na reta final da entrega do Orçamento de 2022 e pouco se sabe como as contas serão fechadas devido ao avanço da inflação encolhendo a folga para o cumprimento do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior. Ele reconheceu que houve um aumento da desconfiança dos agentes econômicos com as medidas polêmicas anunciadas pelo governo, como a reforma do Imposto de Renda, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) propondo o adiamento no pagamento dos  precatórios — dívidas judiciais da União — e a criação de um fundo para liquidação desses precatórios, que ficaria fora da regra do teto.

“Muito se fala da do fiscal, mas é importante mencionar que entendemos o ruído recente. É oriundo de uma percepção do mercado de que alguns programas estariam ligados a uma necessidade de fazer um Bolsa Família mais amplo”, disse o ministro, minimizando os riscos fiscais, a exemplo Guedes, que tem falado que o deficit primário das contas públicas no ano que vem será de 0,3% do PIB. Campos Neto, hoje, chegou a falar em um saldo negativo de até 0,5% do PIB em 2022.

A previsão atual do Ministério da Economia é de um rombo de R$ 155,4 bilhões nas contas do governo central, o equivalente a 1,8% do PIB. No início do ano, essa previsão de deficit estava em 3,5% do PIB, passando para 1,92% do PIB no ano que vem, conforme as estimativas da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Segundo o ministro, o mercado associou as propostas com uma vontade do governo de um Bolsa Família mais amplo. “Isso gerou ruído, e quando olhamos os dados em tempo real, houve influência no preço dos ativos. Hoje, o presidente da Câmara fez um discurso duro no compromisso com a disciplina fiscal (que fez a Bolsa voltar a subir)”, afirmou. Ele contou que vem tentando chamar a atenção do mercado para olhar além desse ruído.

Após ser questionado sobre os riscos inflacionários, Campos Neto voltou a afirmar que o BC tem todos os instrumentos para trazer a inflação para o centro da meta “em um horizonte relevante”, mas não usou o termo que vinha utilizando nos últimos dias de que a autoridade monetária fará “o que for necessário” para cumprir o compromisso de preservar o poder de compra da moeda brasileira.

“A primeira mensagem é que o controle de expectativas e de preço é a variável mais fundamental. Se tem uma coisa que é disruptiva para o crescimento, o planejamento financeiro e o investimento de longo prazo é uma inflação descontrolada. Por isso, o BC entende que é muito importante seguir a meta de inflação no horizonte relevante. Temos instrumentos e capacidade para fazer isso”, garantiu.

Lira acalma mercado

Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), falou no mesmo evento da XP e garantiu respeito às regras fiscais por parte do Legislativo, o que ajudou a fazer a Bolsa voltar para 120 mil pontos. “Não houve e nem haverá rompimento, por parte do Congresso, sinal de rompimento com a responsabilidade fiscal”, disse Lira. Campos Neto, inclusive, reconheceu que a fala do presidente da Câmara foi importante para ajudar a melhorar o humor do mercado.

Assim como Guedes, Campos Neto passou a traçar um cenário mais positivo para as contas públicas. “Temos dois panos de fundo sobre a política fiscal. O primeiro é que a expectativa da dívida bruta está em um nível pré-pandemia”, disse. “Antes da pandemia, falávamos em zerar o deficit primário de 2022. Agora, achamos que poderá ser menos de 0,5% do PIB”, acrescentou.

Vicente Nunes