Cadê o ministro Paulo Guedes?

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ROSANA HESSEL

O novo sumiço do grande fiador do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, levantou suspeitas sobre a sua saída do governo. Apesar de interlocutores do ministro acharem que ele continuará no cargo, porque é “tinhoso”, há um incômodo crescente entre os agentes do mercado. E as apostas de quando Guedes deixaria o posto aumentaram.

A desconfiança aumentou ontem com a ausência de Guedes na apresentação do plano de retomada econômica apresentado pelo ministro-chefe da Casa Civil, o general Walter Braga Netto. O militar roubou a cena para apresentar um plano desenvolvimentista de longo prazo, nos moldes dos antigos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) dos regimes militares.

Com essa cartada que deixou a equipe econômica sem ação, ex-interventor federal no Estado do Rio de Janeiro, entre 2018 e 2019, mostrou a que veio. Antes, Braga Netto já tinha roubado o protagonismo do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nas entrevistas coletivas de balanços da Covid-19, quando mudou as coletivas para o Palácio do Planalto e passou a ser o mestre de cerimônias, com voz grave e autoritária.

A divisão entre o Ministério da Economia e a ala militar do governo ficou visível.  Essa guinada na linha econômica acendeu a luz amarela sobre a continuidade do Posto Ipiranga do presidente Jair Bolsonaro. Apesar de o ministro da Casa Civil dizer que Guedes participou da reunião ministerial que tratou do plano denominado por ele Pró-Brasil antes do anúncio de um plano econômico e aprovou o plano, o general não convenceu.

Para interlocutores do ministro da Economia, um modelo desenvolvimentista como o proposto por Braga Netto não agrada Guedes, que está mais preocupado em manter um certo controle de gastos públicos. A equipe econômica vinha desenhando um plano de saída da recessão mais focado em investimentos do setor privado, como concessões, privatizações e parcerias público-privadas (PPPs). Agora, tenta juntar os cacos para fazer adaptações para continuar colaborando com a nova proposta da Casa Civil.

Divergências

O último sumiço de Guedes ocorreu no fim de março, quando ele decidiu ficar no Rio de Janeiro em vez de voltar para a Brasília, defendendo o distanciamento social enquanto o presidente pregava o contrário, apesar de vários integrantes do governo terem testado positivo para o coronavírus.

Naquela época, Guedes disse que “como cidadão, seguindo o conhecimento do pessoal da Saúde”, preferia ficar em casa e fazer o isolamento social e as dúvidas se ele continuaria na equipe aumentaram. “A ausência do ministro durante aquela semana deixou a equipe em uma saia justa e sem saber como tocar o dia-a-dia. Foram dias bastante tensos”, contou uma fonte do governo. 

Até então, o ministro não tinha fixado residência na capital federal desde que assumiu o cargo e preferia morar em um flat e brincava que tinha uma mala pronta. Logo depois dessa crise, como forma de minimizar as desconfianças de sua saída, Guedes se mudou para Brasília e passou a morar na Granja do Torto, onde faz teleconferências com a equipe e investidores. Ele evita sair de lá a não ser para se reunir com o presidente.

Mas as contradições de Bolsonaro na defesa de uma linha econômica mais liberal, estão mais evidentes e geram preocupação na equipe econômica.  Segundo uma fonte do governo, o clima interno vem piorando desde desde o fim do ano passado, quando o presidente autorizou a liberação de R$ 10 bilhões para a estatal Engesa construir corvetas, na contramão do ajuste fiscal defendido por Guedes e seus assessores.

Resta saber quem vai ganhar a aposta.

Vicente Nunes