Cabo de guerra armado entre fabricantes de vergalhões e setor da construção civil

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ROSANA HESSEL

O Ministério da Economia pretende reduzir o Imposto de Importação (II)  de 11 produtos, entre eles, o aço. A decisão será da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que tem reunião marcada para a manhã desta quarta-feira (11/5), e o cabo de guerra entre as siderúrgicas e o setor de construção civil – que vem reivindicando, desde o ano passado, a derrubada da alíquota do tributo para os vergalhões – está armado. Enquanto os fabricantes alegam que medida será “inócua” para os preços, construtoras reclamam do aumento dos preços do produto no mercado interno, afirmando que estão “relativamente caros”.

“Tivemos uma reunião em que, no início, o ministro trouxe grande preocupação com a inflação e o combate à inflação, o que também é uma prioridade nossa”, disse Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, a jornalistas, na tarde de ontem (10/5), após encontro com Guedes no qual empresários tentaram convencer o ministro de recuar na ideia de reduzir o imposto de importação sobre o aço. Lopes demonstrou preocupação com a queda nos preços das ações das empresas do setor diante da possibilidade de que as alíquotas de importação do aço fossem zeradas.

“O ministro esclareceu que apenas um grupo mais específico seria beneficiado, o ligado ao programa Casa Verde Amarela”, acrescentou Lopes. Ele disse que a negociação com os técnicos do governo foi feita para que apenas os vergalhões utilizados na construção civil, que é uma demanda antiga das construtoras, tivesse redução da alíquota de importação de 10,8% para 4%.

Diante da expectativa de redução da tarifa de importação do aço, as ações das siderúrgicas nacionais lideraram as quedas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), ontem.  Marcos Faraco, presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, contou que, durante a reunião com Guedes, foram apresentados dados do setor comprovando que o vergalhão brasileiro é dos “mais baratos do mundo” e que uma redução do imposto de importação será “inócua” nos preços no mercado interno. Segundo ele, mercados relevantes, como a Europa, tiveram aumento de 129% no preço do vergalhão; nos Estados Unidos, 78%; e, no Brasil, 45%. “O único mercado com incremento inferior ao Brasil é a Rússia”, disse.

Especialistas lembram que, na China, onde há um grande excesso de produção, o aço é fortemente subsidiado e, por conta disso, a maioria dos países tentam se proteger com medidas antidumping. A expectativa dos executivos é de que o governo atenda o apelo do setor e volte atrás na intenção de reduzir qualquer tributação sobre o aço, pois a maioria dos países adotam medidas de proteção contra os produtos chineses, principalmente.  “O peso do aço nos preços dos veículos não chega a 5% e, na inflação da construção civil é de 0,03%”, disse Faraco.

Logo depois das declarações dos representantes do instituto à imprensa, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgou uma nota, na noite de ontem, afirmando que o preço do aço no Brasil está “relativamente caro” quando a entidade avalia os custos dos insumos da construção.

“O item tem impactado o setor, principalmente nos dois últimos anos após sofrer uma variação de 101%. Como base de comparação, desde 2020, outros insumos tiveram reajustes menores: cimento ( de 39%) e tijolo e peças cerâmicas (de 46%). O próprio dólar variou 38% no período, enquanto o INCC, Índice Nacional de Custo da Construção, subiu 27%”, informou a entidade citando dados do Índice  de Preços ao Produtor Amplo (IPA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo a nota,”uma redução no preço do aço permitiria que o setor ganhasse força e competitividade”.

Resta saber o que a Camex vai decidir sobre o assunto na reunião de hoje.

Veja a íntegra da nota divulgada pela Abrainc:

Nota à Imprensa

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) esclarece que o preço do aço no Brasil está relativamente caro quando avaliamos o custo dos insumos da construção. O item tem impactado o setor, principalmente nos dois últimos anos após sofrer uma variação de 101%. Como base de comparação, desde 2020, outros insumos tiveram reajustes menores: cimento (+39%) e tijolo e peças cerâmicas (+46%). O próprio dólar variou 38% no período, enquanto o INCC, Índice Nacional de Custo da Construção, subiu 27%. Os dados são do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) da Fundação Getúlio Vargas.

O custo do aço no Brasil sempre foi um dos mais baratos do mundo, mas agora a situação mudou, principalmente quando comparamos o poder de compra do brasileiro em relação aos imóveis. A pesquisa Numbeo, que representa a maior base de dados colaborativa sobre cidades e países do Mundo, aponta que o metro quadrado brasileiro custa cerca de US$ 2 mil, enquanto o americano está na casa dos US$ 15 mil.

Para o presidente da Abrainc, Luiz França, o impacto do aumento do aço sobre o segmento Casa Verde e Amarela (CVA) é enorme pela magnitude do programa de moradia popular. “Não é correto pensar que essa variação prejudique uma ou outra empresa. Isso é um grande erro, uma vez que o CVA, por exemplo, representa 80% de todas as moradias construídas no Brasil e, com isso, gera anualmente 1,4 milhão de empregos.”

O executivo reforça que uma redução no preço do aço permitiria que o setor ganhasse força e competitividade. “A redução pode ampliar as possibilidades de compras de materiais para o setor da construção, podendo contribuir para atenuar a subida dos custos em um momento em que as famílias de baixa renda estão sofrendo com a alta inflação. A medida estimula não só a produção de moradias como a geração de postos de trabalho”, complementa o presidente da Abrainc.

Vicente Nunes