BURACO SEM FUNDO

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A Lava-Jato chegou com tudo ao Palácio do Planalto. Por mais que a presidente Dilma Rousseff tente se desvencilhar das denúncias de corrupção que abateram em cheio o marqueteiro de suas campanhas presidenciais, seu mandato voltou a ficar em risco. Ela havia conseguido praticamente enterrar o processo de impeachment, mas pode ter o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tal possibilidade levou euforia a empresários e investidores, que começam a ver uma chance real de mudança do governo e, sobretudo, de resgate da confiança que o país tanto precisa para voltar a crescer.

A visão entre os agentes econômicos é de que, com Dilma no poder, fragilizada politicamente e com uma equipe incapaz de levar adiante reformas estruturais, como a da Previdência Social, o Brasil viverá o pior desastre econômico da história, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) por três anos seguidos, de 2015 a 2017. Sendo assim, não seria de todo ruim, no entender deles, uma mudança no comando do país, desde que o processo fosse conduzido de forma democrática e dentro da lei. “Ainda é cedo para se falar nisso, mas certamente a economia ganharia muito com a saída de Dilma”, diz um dos principais empresários do país, assustado com a quantidade de fábricas que vêm sendo fechadas pelo país.

O grupo Votorantim, por exemplo, desativou fábrica de cimento em São Paulo e vai parar a produção de níquel em uma unidade de Goiás. Com isso, praticamente todos os trabalhadores serão demitidos. A mineradora Anglo American colocou à venda um lote de minas e avisou que restringirá sua presença no Brasil à produção de minério de ferro, desde que o negócio se mostre rentável. A ordem é não despejar um centavo a mais em investimento na economia brasileira. A norte-americana Duke Energy contratou os bancos JP Morgan e Credit Suisse para vender as 10 hidrelétricas que têm no país.

Corda no pescoço

Empresários e investidores admitem que Dilma não está envolvida diretamente no esquema que corrupção de devastou a Petrobras. Mas as evidências de que o partido dela, o PT, destinou recursos ilícitos tanto às campanhas dela quanto às do ex-presidente Lula, a colocam no centro da tempestade que está longe de chegar ao fim. Agora, mais do que se dizer honesta, a presidente terá que provar que não sabia de nada do que foi feito pelo partido que lhe deu sustentação.

Dilma vinha tentando manter distância de Lula, seu criador, justamente para não levar as suspeitas de irregularidades para o Planalto. Chegou a fazer uma defesa tímida do antecessor, mas sempre soube que estava lidando com algo indefensável. Lula, por tudo o que já levantou a Polícia Federal, é acusado de “envolvimento em práticas criminosas”. E tem tudo para empurrar o governo de vez para o buraco. “A corda que havia afrouxado voltou a apertar no nosso pescoço”, diz um influente auxiliar da presidente. “A prisão de João Santana e todas as acusações contra Lula nos deixaram sem chão”, acrescenta.

O resultado, reconhece o integrante do governo, é que, se havia ainda alguma chance de o governo virar o jogo na economia, ela desapareceu por completo. A tendência é de a crise política se agravar e de as portas no Congresso se fecharem para a aprovação de projetos importantes, como o que desvincula receitas do Orçamento (DRU) e o que recria a CPMF. “Se o quadro era difícil, agora, com as novas denúncias da Lava-Jato, tornou-se dramático”, afirma.

Terror e pânico

Para os agentes econômicos, o certo é que o país cavará um buraco ainda mais fundo, com o desemprego caminhando para níveis alarmantes. As dúvidas sobre a permanência de Dilma no poder só vão alimentar a desconfiança e paralisar o pouco que ainda está funcionando. O ideal, dizem empresários e investidores, seria que o TSE decidisse logo sobre o processo de cassação da chapa presidencial. Independentemente do resultado, ao mesmo se teria uma luz no horizonte. O que não pode é manter o país mergulhado num mar de incerteza, que prejudica, sobretudo, os trabalhadores.

Dilma promete resistir. Já avisou a auxiliares que continuará com todas as agendas para mostrar que o governo não está inerte e que não tem medo de mostrar a cara. Ela sabe, porém, que a crise da qual vinha tentando se livrar voltou a se agigantar. E, agora, com a Polícia Federal muito próxima de chegar aos chefes do maior esquema de corrupção do país. Nunca, mesmo com o processo de impeachment, o medo foi tão grande no Planalto.

Brasília, 08h30min

Vicente Nunes