LUÍS CLÁUDIO CICCI, especial para o BLOG
É crescente o número de brasileiros em Foz do Iguaçu (PR) que, depois de três semanas da reabertura da fronteira do Brasil com a Argentina, escolhem o comércio clandestino de gasolina para driblar o desemprego ou simplesmente fazer uma grana a mais.
Em Puerto Iguazú, do outro lado da fronteira, o litro da gasolina sai, em pesos, pelo equivalente a R$ 3,50, enquanto, na região da margem direita do Rio Iguaçu, os postos nunca cobram menos que R$ 6,59 pelo combustível. É uma diferença e tanto.
Depois de atravessar a fronteira, em Foz, é fácil o discreto contrabandista achar quem pague R$ 5 pelo litro gasolina, especialmente porque, com o combustível sem álcool da Argentina, um carro brasileiro que roda 12 quilômetros por litro (km/l) ganha em autonomia e passa a alcançar 16 km/l.
Para transportar o combustível sem problemas com a fiscalização na fronteira, os responsáveis pelo descaminho light atravessam a Ponte Tancredo Neves com os tanques dos seus carros quase vazios e retornam com a capacidade máxima, pelo mesmo caminho. Fazem isso quantas vezes conseguem.
Nos postos de Puerto Iguazú, como a demanda pela gasolina argentina aumentou muito, os brasileiros enfrentam filas, mas a certeza de ganho com a diferença de preços em relação ao Brasil compensa. Para fazer render ao máximo cada viagem, carros mais antigos, fabricados na década de 70, despertam o interesse dos contrabandistas combustíveis.
Um Corcel, daqueles com design original do modelo, pode carregar até 57 litros, enquanto carros populares fabricados no Brasil comportam tanques de 45 litros. Para encher o tanque do Corcel no país vizinho, o contrabandista paga R$ 199. Em Foz de Iguaçu, no posto mais barato, o desembolso é de R$ 376.
Não será surpresa se, nos próximos dias, o brasileiros derem início ao contrabando de botijões de gás de cozinha. Na Argentina, está à venda pelo equivalente a R$ 35. Em Foz do Iguaçu, custa cerca de R$ 100. O comércio ilegal, porém, teria que ser feito por meio do Rio Iguaçu.
É bom lembrar que a aduana argentina só permite a entrada de visitantes no país mediante a comprovação da vacinação contra a covid-19, com a exigência de que a última dose tenha sido aplicada há pelo menos quinze dias, ou a apresentação de exame negativo para a covid-19 do tipo PCR. É uma burocracia que resulta em filas para entrada no país vizinho, demora que obriga espera de até três horas.
Brasília, 18h46min