A assinatura será o primeiro passo para o andamento de um acordo de livre comércio entre Brasil e China. Foram avaliados os impactos sobre as principais variáveis macroeconômicas e setoriais da economia brasileira. As simulações consideram um cronograma de redução bilateral das tarifas ao longo de 10 anos, com quedas graduais a cada dois anos, até que cheguem a zero.
Segundo o presidente do Ipea, Carlos von Doellinger, diferentemente de outros protocolos de intenção de governos anteriores, o programa detalha ações a serem desenvolvidas dentro de um cronograma de metas.
“Já temos uma programação detalhada para eliminar barreiras comerciais e incrementos com ações concretas, que devem ser desenvolvidas ao longo de cinco anos, podendo ser renovadas depois. Essa é a grande diferença, é um plano de ações detalhado e consistente”, destaca Doellinger.
Impactos
Nos impactos mostrados no estudo macroeconômico realizado pelas duas entidades, a eliminação das tarifas no comércio Brasil-China apresenta ganhos gradativos a cada ano no Produto Interno Bruto (PIB) de cada país, com acumulado de 0,39% até 2030.
O investimento cresceria 0,92% já no primeiro ano do acordo, havendo novas altas a cada um dos anos de nova rodada de desgravação. No final do período de análise, o ganho acumulado será de 3,79%.
As exportações também apresentaram ganhos contínuos ao longo do período de dez anos, acumulando alta de 8,25% em 2030. Já as importações têm comportamento semelhante ao do investimento, crescendo 1,3% já no primeiro ano e registrando novas altas nos anos em que há rodadas de desgravação, com aumento acumulado de 7,73% até 2030.
Acompanhando o movimento, registra-se uma queda do saldo comercial com variações mais expressivas em anos em que há desgravação. A piora do saldo alcança o máximo em 2028, de queda de US$ 15,97 bilhões. Em 2030, o recuo acumulado fica em US$ 12,2 bilhões, uma vez que as exportações continuam crescendo e as importações desaceleram.
Ganha-ganha
O presidente do Ipea define o acordo como um relacionamento de ganha-ganha. “O Brasil tem muito do que a China precisa, e eles tem muito a nos oferecer, por isso, são economias complementares. Somos grande produtor de commodities, que a China precisa cada vez mais, enquanto eles têm muito a oferecer em tecnologia, produtos industrializados e serviços. Existe uma atração muito forte que vai evoluir e parece evoluir muito bem a passos largos”, destaca.
A proximidade das relações comerciais entre os dois países se intensificaram após o Brics, grupo formado por cinco grandes países emergentes (Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul), cuja reunião ocorreu em Brasília no último mês.
“Isso vem de uns meses atrás, quando o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, deu início à cooperação. Depois, no Brics, o presidente chinês teve uma longa e muito proveitosa conversa com o presidente do Brasil, conversa que prossegue. O próprio ministro Paulo Guedes chegou a atentar sobre as possibilidades do acordo”, ressalta Doellinger.
As movimentações acontecem em meio ao anúncio do presidente americano Donald Trump de retomar as tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina, justificando a decisão pela forte desvalorização das moedas dos dois países.
A decisão esbarra na lealdade demonstrada por Bolsonaro aos Estados Unidos, mas o presidente do instituto não vê antagonismo nas relações entre os dois países, que tiveram as expectativas de acordo comercial adiadas mais uma vez.
“Esse relacionamento entre Brasil e Estados Unidos é de longa data e tradicional, mas, se a gente olhar concretamente, friamente, há muito mais complementariedade com a China. Os EUA ainda são a maior potência do mundo, temos que olhar para o futuro e continuar mantendo um bom relacionamento com eles, mas abrindo frente com a China, que tem um interesse comum que, ao meu ver, é fundamental”, afirma.
Brasília,