Bradesco piora projeção para o PIB de 2022 e eleva previsões para juros e inflação

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ROSANA HESSEL

Com a piora no cenário para inflação e crescimento econômico no início do ano em meio à alta dos preços do petróleo e à crise entre Rússia e Ucrânia, o Bradesco elevou as previsões para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e da taxa básica de juros (Selic) neste ano, e, consequentemente, reduziu a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

A equipe do banco liderada pelo economista Fernando Honorato, diretor do Departamento de reduziu de 0,8% para 0,5% a estimativa de crescimento do PIB de 2022, após revisar de 4,9% para 5,4% a expectativa de alta do IPCA no acumulado do ano — acima do teto da meta de 5% — e de elevar de 10,25% para 11,75% a projeção para a taxa Selic no fim do ano.

“A disseminação da variante ômicron pelo mundo trouxe novos desafios para as cadeias globais e a esperada desinflação vinda dos preços de commodities não deve acontecer no curto prazo. Problemas climáticos afetaram a safra de grãos esperada para este ano e, além de pressionarem a inflação no curto prazo, devem diminuir a contribuição positiva do setor agrícola para o PIB, que deve crescer 0,5% em 2022”, escreveu Honorato, no comunicado enviado aos clientes nesta terça-feira (1º/02) destacando o fato de a carestia global atingir os maiores patamares das últimas três a quatro décadas nos Estados Unidos, na Zona do Euro, no Reino Unido e no Canadá.

De acordo com o documento, as perspectivas para a inflação global pioraram nas últimas semanas por conta da alta do preço do petróleo e dos efeitos da onda da variante ômicron sobre a oferta de mão de obra nos EUA e as cadeias de suprimento globais. “Além dos fatores conjunturais, há excesso de demanda em vários países por conta dos estímulos fiscais e monetários desde o início da pandemia. A maioria dos bancos centrais das economias emergentes já começou a apertar a política monetária, mas este processo está apenas se iniciando nas economias maduras”, destacou Honorato. Ele prevê alta de 1,5 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorre hoje e amanhã, em linha com o consenso do mercado, que elevará a Selic para 10,75% ao ano.

Aperto monetário

Para o pico do ciclo de aperto monetário, Honorato prevê a taxa de juros chegando a 12,25% no pico do ciclo. “As expectativas de inflação continuam desancoradas, com a mediana acima do teto da meta em 2022. Esses níveis de juros são contracionistas e as decisões de política monetária, cada vez mais, terão efeitos crescentes em 2023. Por isso, estimamos que a Selic encerre o ano em 11,75%”, destacou.

O economista lembrou que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), sinalizou o início do ciclo de alta de juro para março e adotou um discurso mais duro do que o esperado na reunião do Fomc (Copom norte-americano) de janeiro.  A projeção do Bradesco é de uma alta de 1,5 ponto percentual distribuídas em seis altas de 0,25 ponto percentual ao longo do ano, “mas o passo pode ser alterado para 0,5 ponto percentual”.

As projeções para a taxa de câmbio seguirão sendo desafiadas pelos cenários global e doméstico, de acordo com Honorato. “O efeito da alta de juros do Fed sobre as moedas dos emergentes é historicamente relevante e, além disso, os temas fiscais domésticos devem continuar influenciando as cotações. Os níveis da taxa Selic, entretanto, podem mitigar esse quadro, como temos notado na apreciação deste início de ano. Utilizamos um dólar ao redor de R$ 5,50 como premissa em nosso cenário”, escreveu.

Vicente Nunes