ROSANA HESSEL
Após a perda de fôlego do crescimento econômico apontada pelos dados recentes dos indicadores de atividade, o Bradesco passou para o grupo de instituições que passaram a prever avanço do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano abaixo de 5%. O banco revisou de 5,2% para 4,7% a estimativa de alta do PIB deste ano, mas manteve em 0,75% a estimativa para o PIB de 2022.
“Os riscos para o crescimento do próximo ano são para baixo. O PIB de 2022 poderá ser menor, mas não estamos vendo um dado negativo”, informou ao Blog, Fernando Honorato, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Apesar do viés de baixa, o banco tem uma das estimativas mais otimistas do mercado para o PIB no ano que vem. Grandes instituições financeiras, como Itaú Unibanco e Credit Suisse, já estimam queda de 0,5% devido, principalmente, à inevitável alta dos juros que vem sendo promovida pelo Banco Central para conter a escalada da inflação, que, no acumulado em 12 meses até novembro, chegou a 10,74% maior patamar para o período desde 2003.
De acordo como relatório do Bradesco divulgado nesta sexta-feira (10/12) para os clientes, a aceleração inflação, que corrói a renda disponível das famílias, é o principal fator dessa perda do fôlego da economia. O banco elevou as previsões de alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano e do próximo, passando de 9,4% para 10%, em 2021, e de 4,5% para 4,9%, em 2022. O documento destaca que a inflação está mais disseminada, “com maior risco de persistência em 2022”.
O documento destacou que, enquanto começam a surgir as primeiras evidências de diminuição dos gargalos de produção, quando os preços das matérias primas estão desacelerando e a demanda por esses bens lentamente começa a ceder, restará a inflação de serviços, que está pressionada e, historicamente, é mais inercial. “Os reajustes de mensalidades, transporte público e outros serviços tendem a refletir a inflação superior a 10% registrada neste ano. Assim, mesmo com alívio dos preços de bens industriais, alimentação e administrados, o IPCA deve ficar apenas ligeiramente abaixo do teto da meta de inflação. O estímulo fiscal, apesar de menor em relação à média dos últimos dois anos, será concentrado em famílias com maior propensão ao consumo, especialmente de alimentos. Esse também é um fator altista considerado em nosso cenário”, completou.
“No quadro fiscal, há sinais positivos de curto prazo, mas não houve melhora estrutural das contas públicas e esse tema deverá voltar ao cerne do debate no próximo ano. O primário estrutural permanece em -1,7% do PIB, bastante próximo ao estimado antes da pandemia. Isso, em conjunto com a elevação da taxa de juros, levará o endividamento público para 88% do PIB no ano que vem”, informou o documento que manteve em 9,25% e em 10,25% as previsões para a taxa básica de juros (Selic) no fim de 2021 e de 2022, respectivamente.
As estimativas para o câmbio de R$ 5,50, neste ano, e de R$ 5,70, no ano que vem, também foram mantidas. Por outro lado, a perspectiva do Bradesco para o crescimento do PIB global diminuíram, passando de 6,10% para 5,90%, em 2022, e de 4,30% para 4,20%, em 2022. Contudo, essas taxas estão bem acima do esperado pelo PIB brasileiro.