ROSANA HESSEL
O banco Bradesco acaba de revisar as projeções econômicas da economia brasileira e elevou de 1,5% para 1,8% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022, devido ao desempenho do primeiro semestre, mas alertou que a economia deverá perder fôlego a partir da segunda metade do ano. Para 2023, a nova previsão do banco privado é de PIB zero. Em junho, a estimativa de crescimento era de 0,3%. Essa mudança ocorreu especialmente devido aos efeitos da alta dos juros que devem ajudar a reduzir a capacidade de crescimento do país.
“O quadro fiscal ficou mais incerto nas últimas semanas. Há um avanço de pautas que ampliam desonerações e dispêndios governamentais. Algumas medidas devem ficar restritas a 2022, mas outras têm caráter permanente, com consequências para a trajetória da dívida pública”, destacou Fernando Honorato, diretor de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco, em comunicado enviado divulgado nesta sexta-feira (1º/7). Segundo ele, a revisão do PIB de 2023 reflete os efeitos da política monetária devem se somar ao menor dinamismo da economia internacional e das condições financeiras mais apertadas. “Ademais, o Brasil não será beneficiado pelo crescimento dos preços das commodities, como verificado nos últimos trimestres. Assim, o PIB brasileiro deverá ficar estável em 2023, após avanço de 1,8% em 2022”, acrescentou.
De acordo com Honorato, as condições financeiras pioraram mesmo antes da aprovação Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 1, no Senado ontem, ou a PEC das “bondades”, que substituiu a PEC dos Combustíveis (PEC 16) e prevê a aprovação de vários auxílios, gerando um rombo nas contas públicas superior a R$ 40 bilhões. “A proposta ainda está em tramitação”, destacou.
De acordo com técnicos do governo e analistas, essas propostas devem enterrar de vez o teto de gastos, que já tinha sido ampliado no fim de 2021 com as mudanças na metodologia e, com isso, deixou de ter eficácia no controle das despesas públicas.
No documento divulgado hoje, Honorato também alerta para o fato de que o quadro inflacionário ainda requer atenção. Com as desonerações recentes, o banco reduziu a projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano de 9% para 7,5%, ainda acima do teto da meta de inflação, de 5%. Já a previsão para a inflação oficial de 2023 aumentou, devido aos impactos dessas desonerações, , passando de 4,1% para 4,9%, também acima do limite superior.
“As desonerações recentes reduzem a projeção de inflação para 2022, mas elevam a do próximo ano. A despeito dessa mudança de preços relativos, não notamos uma alteração do quadro inflacionário, que ainda requer atenção”, alertou Honorato. Com isso, segundo ele, a inflação exige que a taxa de juros permaneça elevada por um período mais prolongado. A projeção para a taxa básica da economia (Selic) no fim deste ano avançou de 13,25% para 13,75% anuais. “Como o processo de desinflação será lento, o Banco Central só deverá reduzir os juros a partir do segundo semestre de 2023. Ao final do próximo ano, a taxa básica de juros deverá estar em 11,75%”, destacou o texto.
O banco manteve a previsão para o dólar ao redor de R$ 5, entre o fim deste ano e do próximo, e não alterou as estimativas de crescimento do PIB global, de 3,2%, neste ano e no próximo.