Bolsonaro prioriza agenda de costumes e economia afunda

Compartilhe

ROSANA HESSEL

Enquanto o novo governo procura se preocupar mais com a questão de costumes da população, a economia patina feio. O desemprego voltou a subir com força diante da desconfiança de empresários e de consumidores em relação à capacidade do governo de reativar a atividade econômica do país. A taxa de desocupação no primeiro trimestre de 2019 saltou para 12,7%, conforme dados divulgados nesta terça-feira (30/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No último trimestre de 2018, essa taxa era de 11,6%.

A piora nos dados de emprego reflete a paralisia na indústria e no comércio e as incertezas em relação ao avanço das reformas, principalmente, a da Previdência. Não por acaso, os especialistas já falam em queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e crescimento inferior a 1% no acumulado de 2019. Esse desastre, reforçam, é reflexo da opção do presidente Jair Bolsonaro em priorizar a agenda de costumes em vez de ações concretas para estimular a produção, os investimentos, o emprego e o aumento da renda.

Foram registrados 13,4 milhões de desempregados de janeiro a março, dado que cresceu 10,2% (mais 1,2 milhão de pessoas) frente ao trimestre de outubro a dezembro de 2018 (de 12,2 milhões). O número de pessoas subutilizadas também cresceu no mesmo período, somando 28,3% milhões, alta de 5,6% na mesma base de comparação, de acordo com o IBGE. A taxa de subutilização da força de trabalho, de 25% no primeiro trimestre do ano, é recorde da série histórica iniciada em 2012, com alta de 1,2%.

“Os dados do emprego divulgados na manhã de hoje pelo IBGE confirmam o cenário mais pessimista em relação ao PIB do primeiro trimestre”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Necton. Ele prevê estagnação no PIB dos primeiros três meses do ano e de apenas 0,9% no acumulado no ano.

O economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, destacou que o desemprego continua elevado porque o cenário de crescimento e de investimento no país é medíocre. Ele avaliou que a composição dos novos empregos “continua sendo de baixa qualidade”, pois o emprego formal está crescendo muito pouco, 0,2% e o informal aumentou 4,4%.  Pelas contas de Ramos, 1,59 milhão de novos postos de trabalho criados a partir do ano passado foram impulsionados, em grande parte, por aqueles que trabalham no setor informal (466 mil) e autônomos (879 mil).

Vicente Nunes