Bolsonaro no ataque é resposta à disputa interna no PSL

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RODOLFO COSTA

A postura de confronto do presidente Jair Bolsonaro ao longo da última semana e a discussão nas redes sociais entre as deputadas Joice Hasselmann (PSL-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP) está intimamente atrelado. A derrota do governo na votação da Medida Provisória (MP) 870, da reforma administrativa, que transfere o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça para o Ministério da Economia, desencadeou uma série de acontecimentos internos no PSL e na articulação governista.

Os episódios remontam a 9 de maio, quando o parecer do relator da MP 870, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, foi votado na Comissão Mista Especial da matéria. O governo perdeu e a bancada do PSL lavou roupa suja com Bolsonaro, em reunião no Palácio do Planalto. Ali, o presidente da República chegou a defender o relatório, sob orientação de Hasselmann, sustentando a importância de ter “votos” e a “maioria” para a aprovação da agenda reformista.

A sinalização de Bolsonaro provocou muitas críticas de correligionários e o choro de Zambelli, que, segundo afirmam pesselistas ao Blog, repreendeu o presidente. “Cadê o Bolsonaro que a gente conhece? Não é possível que ele (presidente) não vai fazer nada. Eu não fui eleita para poder votar, agora, com o Centrão. Meus eleitores não esperam isso de mim e os seus eleitores (de Bolsonaro) não esperam isso de você”, criticou. A provocação gerou embate com Joice, que a chamou de ingênua, mas foi o suficiente para mudar a postura de Bolsonaro.

A resposta do presidente a Zambelli e aos parlamentares que questionaram a proximidade com o Centrão tardou, mas não falhou. Na última terça-feira (14), veio a primeira resposta ao bloco político e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que abandonou a articulação política após não conseguir convencer o governo a mudar o relacionamento com o Congresso. No Twitter, Bolsonaro ressaltou que o governo precisa do Congresso para que o governo possa, definitivamente, decolar economicamente, em uma sutil pressão aos congressistas.

Na quinta-feira (16), Bolsonaro disse que jamais abrirá mão dos “princípios fundamentais” que sempre defendeu e “com os quais a maioria dos brasileiros sempre se identificou”. “O Brasil pediu uma nova forma de se relacionar com os poderes da República, e assim seguirei, em respeito máximo à população”, disse, também no Twitter. Outro comentário com respostas ao Centrão. Um dia depois, veio o vazamento do texto compartilhado a amigos de que o Brasil é “ingovernável sem conchavos”. Nesta segunda (20/5), disse que “o grande problema do país é a classe política” em evento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Isolamento

As declarações mostram de que lado Bolsonaro ficou na disputa entre Hasselmann e Zambelli. A postura do presidente agradou uma grande parcela dos aliados, que decidiu manter a data de manifestações a favor da agenda governista em 26 de maio. O problema é que, ao mesmo tempo que reforçou o ânimo entre os apoiadores, dividiu os movimentos de rua e complicou as articulações políticas.

Como líder do governo no Congresso, Hasselmann vinha conversando com líderes partidários para construir apoio para a MP 870 com Coaf na Justiça. As conversas também dizem respeito ao suporte para a reforma da Previdência. A postura de confronto de Bolsonaro ao Centrão, no entanto, acabou neutralizando-a. A solução encontrada pela parlamentar foi conversar diretamente com as bases dos partidos. De neutralidade, acabou ficando isolada.

A liderança do governo no Congresso disparou ligações para os parlamentares em forma de “varejo” na última semana, afirma ao Blog o líder do PR na Câmara, Wellington Roberto (PB). “Para tentar saber, mapear ou rastrear o que os deputados vão pensar e decidir em relação às MPs na pauta desta semana. Excluindo líderes e presidentes partidários. Eu sei que todo mundo tem liberdade de ir e vir, mas não é assim que funciona. No caso do meu partido, somos praticamente uma família, onde não posso dizer que temos 100% de lealdade, mas, em percentual que chega nisso”, criticou.

Os movimentos de Hasselmann em contatar as bases dos partidos não pegou bem e, consequentemente, também não ajuda a articulação feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Os diálogos do articulador do governo com o Centrão estão estagnadas, pela falta de confiança dos líderes. As lideranças desconfiam da capacidade dos interlocutores de dar encaminhamento às demandas. A Lorenzoni e Hasselmann, apresentam metas que ambos não conseguem conduzir junto a Bolsonaro.

Reviravolta

O articulador que vinha conseguindo encaminhar pautas junto ao presidente é o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O deputado construiu uma ponte com o chamado Centrinho — bloco formado por Podemos, PSC, Cidadania, PV, Pros e Patriota — e reunir os líderes do bloco partidário com Bolsonaro. O presidente prometeu a eles que suspenderia o contingenciamento sobre os recursos da educação, mas Lorenzoni atuou para convencer Bolsonaro a manter a decisão.

A mesma articulação feita por Lorenzoni para neutralizar os poderes de Vitor Hugo vem sendo reproduzida por Hasselmann, afirmam pesselistas ao Blog. No entanto, esses movimentos provocaram uma reviravolta, em uma contra-resposta interna no partido. As tentativas de fragilizar o líder do governo na Câmara voltaram a unir ele ao líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO). Os dois estavam em pé de guerra nas últimas semanas mas, agora, demonstram união.

Há algumas semanas, o deputado General Girão (PSL-RN) e Vitor Hugo começaram a colher assinaturas para tirar Waldir da liderança do PSL na Câmara. Na última semana, veio o “Dia do Fico”. Pressionado por cerca de 22 correligionários que queriam depor o atual líder, Waldir decidiu apoiar a MP 870 original, como o governo encaminhou, em um revés para Hasselmann, que contava com o apoio dele para aprovar um relatório mais próximo do articulado por ela. “Ele (Waldir) colocou todos em uma sala, ouviu as pessoas, e foi ali que recuperou a liderança. Sabia que precisa ser nosso líder, e líder do partido defende o que o partido quer”, afirmou um deputado do PSL ao Blog.

Vicente Nunes