ROSANA HESSEL
Apesar da guinada de 180 graus com a divulgação de carta pacificadora, o presidente Jair Bolsonaro não perdeu o perfil bélico de enfrentamento das instituições, na avaliação de apoiadores e de opositores.
“Assim como a rede de oposição, a rede de situação não acredita que Bolsonaro perdeu o perfil mais bélico. Eu também não acredito. Na primeira oportunidade que tiver para mobilizar esse pessoal que gosta de tensão, ele vai fazer”, disse o CEO da AP Exata, Sergio Denicoli, nesta sexta-feira (10/09), durante apresentação do resultado de nova edição da pesquisa Modalmais-Exata sobre um balanço das manifestações de 7 de Setembro, quando Bolsonaro fez declarações de confronto à Constituição e aos demais Poderes.
Denicoli destacou que, após os eventos de 7 de Setembro, o presidente conseguiu o feito de unir os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e resgatar o debate sobre impeachment, inclusive, entre partidos do Centrão, e, para botar panos quentes, emitiu uma carta à nação redigida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
“Bolsonaro entendeu que não é bom esticar tanto a corda. Ele conseguiu a façanha de unificar o STF e dez com que o impeachment voltasse à pauta. Com essa pressão forte, ele ganhou um tempo com esse recuo, mas ele é um jogador de xadrez”, disse. Para Denicoli, o presidente deverá reduzir as ameaças ao Supremo, mas manterá o discurso de fraude eleitoral, porque vai insistir na tese de que as urnas eletrônicas não são confiáveis caso o resultado em 2022 não for favorável a ele.
O pesquisador contou que a militância não gostou desse recuo Bolsonaro, mas a popularidade do presidente nas redes caiu pouco e se recuperou rapidamente após a transmissão ao vivo das quintas-feiras, onde ele explicou os motivos, alegando que era para manter a governabilidade. Aliás, a recuperação foi mais rápida do que em abril de 2020, quando o ex-juiz Sergio Moro deixou o governo.
Conforme dados da pesquisa, apesar de a oposição achar que as manifestações floparam, os eventos deram ao presidente muita força. “Ao mesmo tempo em que Bolsonaro se colocou diante de um impasse, ameaçando cometer crimes de responsabilidade, o movimento culminou na paralisação de rodovias por um grupo de apoiadores do presidente, mostrando que ele ainda tem poder de mobilização”, destacou Denicoli.
Terceira via sem vez
Os últimos eventos fecharam o caminho para uma terceira via para as eleições de 2022, porque não existe um rosto para mobilizações, na avaliação do CEO da AP Exata. “A terceira via perdeu relevância e mobilização. A terceira via precisa das ruas e elas estão monopolizadas pela polarização”, disse. Segundo ele, houve diminuição do engajamento das manifestações neste fim de semana após a carta de Bolsonaro.
“Os esforços do MBL em agregar forças de esquerda e centro-esquerda nos atos previstos para domingo encontraram forte rejeição de petistas e psolistas. Ciro Gomes (PDT), que ambiciona ser o candidato da terceira via aderiu ao movimento, tendo sido elogiado por sua própria militância”, informou o documento. “No entanto, Ciro não revelou nas redes uma capacidade de mobilização de rua e pouco deve agregar às manifestações. Os protestos tiveram um bom destaque no início da semana, mas perderam engajamento diante dos acontecimentos políticos intensos dos últimos dias. Até o momento, apenas o bolsonarismo e o petismo conseguiram demonstrar força para mobilizar as massas. O centro quebra a polarização das ruas, mas, sem
um candidato definido, encontra dificuldades de ocupar um espaço que, até agora, permanece vago”, acrescentou.
Para o executivo, Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são as duas grandes forças políticas capazes de mobilizações nas redes sociais e, portanto, não há espaço para uma terceira via até o momento. “Acredito que a movimentação serviu para mostrar ao país que Bolsonaro é capaz de mobilizar forças que podem criar um certo caos ao país”, disse.
De acordo com o consultor, apesar da participação de Michel Temer nesse processo de pacificação “temporária” entre os Poderes, não rendeu grandes frutos ao emedebista, apesar de ele ter apresentado resultados positivos na economia quando assumiu o poder após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. “Temer não conseguiu se tornar um grande líder político, apesar de apresentar resultados positivos”, frisou Denicoli.